Alda Lara - Angola - 1930 / 1962
Ainda a propósito do dia da poesia que se celebrou em Portugal no passado dia 21 do corrente, proponho-vos uma passagem sobre uma poetisa pouco conhecida entre nós, trata-se de Alda Lara, uma angolana que viveu entre 1930 e 1962. É uma proposta da lusofonia, um pequeno contributo para que se fortaleça a ponte entre Portugal e os paises africanos de expressão portuguesa. Para aqueles que não conhecem Alda Lara, deixo aqui o poema "Testamento" que marcou muito da poesia africana. Reza assim:
TESTAMENTO
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco.
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
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