Turma Formadores Certform 66

Tuesday, November 11, 2014

Da queda do muro de Berlim à Europa que temos hoje

Quando ainda subsistem os ecos da queda do muro de Berlim, será bom pensar sobre o que esta Europa nos vai reservando. E aqui, contra todas as tendências aparecia a voz dum grande intelectual alemão - Günter Grass - que afirmava: "Sou contra a reunificação porque a Alemanha sempre foi um corpo estranho à Europa e vai voltar a sê-lo". Parecia uma certa voz agoirenta em momento tão festivo para a Alemanha, e desde logo para a restante Europa, quando um dos maiores símbolos da guerra fria desaparecia. Depois de passados os tempos de euforia, - já lá vão 25 anos -, verificamos que as palavras de Günter Grass eram proféticas. Depois da Alemanha ter passado por enormes dificuldades com os custos da reunificação que afetaram profundamente as contas públicas alemãs, vimos como esta se foi reerguendo e como apareceria com a arrogância de outros tempos. Aqui cumpre afirmar que a Alemanha durante este doloroso processo contou sempre com a solidariedade europeia, - até se costuma citar o caso da Grécia que tanto clamou para a ajuda à Alemanha quando outros países não seguiam pelo mesmo diapasão - aquela mesma ajuda que hoje Merkel e seus seguidores negam aos outros países, nomeadamente, os países periféricos do sul da Europa como Portugal e a própria Grécia. A Alemanha teve durante muito tempo défices excessivos, contas públicas desequilibradas, desemprego, baixos salários. Tudo aquilo que hoje ela aponta com a célebre arrogância alemã aos outros países e que Günter Grass já denunciava à um quarto de século atrás. Com um Banco Central Europeu (BCE) compreensivo e um Fundo Monetário Internacional (FMI) tolerante, a Alemanha lá foi construindo o seu percurso sem sofrer a agrura da especulação dos "mercados" de que tanto se fala nos nossos dias. Todas estas entidades são hoje membros da chamada "troika" que tanto nos tem assolado e empobrecido, coisa bem diferente da tolerância para com os alemães. Christine Lagarde, diretora-geral do FMI, afirmava há tempos que "quando a maré baixa os nús mostram toda a sua nudez". É verdade e como o sabemos bem, como o sentimos todos os dias na pele. 25 anos passaram desde a queda do muro de Berlim. A Europa pretensamente unida esperou que daí adviesse prosperidade e paz. Aliás, essa era a ideia maior dos fundadores da União Europeia (UE). A prosperidade não foi a sonhada e nós sabemos bem disso. A paz tem existido de facto, embora o ainda fresco na memória conflito dos Balcãs, viesse mostrar quão frágil ela é, entre uma Europa que sempre se degladiou entre si. O Euro, símbolo maior da UE, tornou-se entretanto uma espécie de Deutsch Mark alemão, arrastando os outros países, - sobretudo os mais frágeis -, para uma insustentável falta de força das suas economias, quando o contrário era o expectável. Muitas ilusões foram desfeitas, muitas apreensões existem hoje face à situação que os países europeus vivem. Com uma UE que não consegue gerir os equilíbrios entre os seus membros, com a falta de solidariedade patente, com até, uma certa crispação face aos mais frágeis, esta Europa corre o risco de desaparecer. Não enquanto entidade geográfica, mas enquanto união que se pretendia um oásis num mundo adverso. O problema demográfico só vem agravar a situação, onde é visível a aculturação desta velha Europa invadida por hordas providas de outros continentes, sem que possa fazer nada. Afinal até precisa dessa gente para trabalhar e contribuir para os sistemas europeus de apoio social. 25 anos passaram e tanta coisa aconteceu. Mas as grandes perguntas continuam sem resposta. Que Europa queremos? Que Europa estamos a construir? Que Europa teremos nos próximos 25 anos? Questões que permanecem sem resposta apesar das intenções. O recente escândalo no Luxemburgo com a evidência de que este país se foi transformando numa espécie de "paraíso fiscal" - esse mesmo país que tanto rigor pretende impor aos outros - não é o melhor dos desígnios e não deixa ninguém tranquilo. Mas ainda somos dos que, apesar de tudo, acreditam que a Europa será capaz de sarar as suas feridas. Assim exista empenho e compreensão, afinal os mesmos, que na altura própria ajudaram a Alemanha a reerguer-se.

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