Turma Formadores Certform 66

Friday, November 06, 2015

Tempos de crispação

Está a chegar a "dead line" para as negociações à esquerda. O Bloco anunciou ontem que tem o acordo fechado. O PCP, mais prudente, ainda continua à mesa. Vivemos tempo de crispação, tempos difíceis, tempos de indefinição. Mas não pensem que a crispação é só dum lado. Na direita ela está, mais do que nunca, no auge. Basta ver alguns escritos de gente alinhada com a coligação de direita para facilmente concluir esta situação. Há quem diga que nunca, desde o 25 de Abril de 1974, se viu tal. Perdoem-me mas é falso. Toda a gente, pelo menos os menos jovens, devem lembrar-se da famosa tese de bipolarização encabeçada por Sá Carneiro, que partiu o país a meio e quase o conduziu a uma guerra civil. Mas as gentes da direita não devem ficar tão surpreendidas com as negociações do PS com os partidos à sua esquerda. Dizem que nunca se viu tal! Pois também se enganam. Há quatro anos atrás, viu-se o PSD e o CDS numa estranha coligação com o PCP e o Bloco de Esquerda, na votação do PEC IV (ele de novo), que derrubaria o governo de Sócrates. Será que só quando a direita decide com quem se coligar é que está a prestar um serviço ao país? Se calhar neste caso, - e ainda muita água há-de correr sob as pontes -, talvez se venha a concluir que esta anacrónica coligação serviu, isso sim, para que a direita ultraliberal chegasse ao poder. Mas deixe-mo-nos destas minudências, porque nenhum partido está isento de crítica, por mais que se esforce para mostrar o contrário. Sei que António Costa esta a fazer uma jogada de alto risco, ele que deveria ter ganho as eleições e que só as falhou pela sua incompetência. Está a tentar emendar a mão, não sei se este é o caminho certo. Se o acordo falhar todos os partidos vão sofrer imenso, e a direita permanecerá no poder por muitos e muitos anos. Daí que António Costa deve estar - e está seguramente - atento a esta realidade. Os últimos estudos publicados vêm mostrando que o país está partido rigorosamente a meio. Nunca tal se viu. O centro perdeu-se e não devia ser assim. A bipolarização é evidente. O CDS arrastou o PSD para a direita, - hoje dizer-se social-democrata é um eufemismo -, o que pode levar a que o CDS seja engolido pelo seu parceiro de coligação. As forças mais ao centro do PS vão-se mostrando (caso de Francisco Assis), mas do lado do PSD parece que essas pessoas (que também as há) estão paralisadas, amorfas, sem opinião. Ou acham que não vale a pena - e isso é grave -, ou então estão à espera da sua hora - que pode ainda demorar bastante. Seja como for o chamado "centrão" desapareceu. Se a partir de agora não existem mais partidos de primeira e de segunda, ou votos de primeira e de segunda, também é certo que se formaram dois blocos distintos. Depois desta embrulhada, apenas uma coisa parece certa, a maioria dos portugueses ao votar disse que não queria a coligação a governar para além da vitória eleitoral. O caminho para se ir de encontro a essa pretensão é que me parece problemático. Neste momento, ninguém poderá antecipar as consequências que advirão para o país de tudo isto. E o impacto que terá em outros países do sul da Europa, a começar pela vizinha Espanha. Em breve o saberemos. 

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