Turma Formadores Certform 66

Tuesday, December 29, 2015

Família: Da infância à terceira idade

Estamos quase no fim de mais um ano. Tempo ideal para balanço, mas também para algumas reflexões que ocupam sempre um lugar privilegiado na minha mente. Hoje trago-vos uma questão que me apoquenta, diria mais, me incomoda que é o drama da terceira idade. Antes de falar sobre o tema, deixem-me que vos diga que vivo a escassos metros dum grande lar de terceira idade, mas não um lar qualquer, um daqueles lares especiais para gente com muitas posses, por isso, os seus utentes são pessoas detentoras de vidas bem folgadas. Vai daí que há dias atrás, logo a seguir ao Natal, quando passava junto desse lar, vi uma família que trazia a sua idosa para o mesmo. Saindo de carro de alta cilindrada a condizer com a condição, aquela velhinha, apesar de ter sido recebida no estacionamento com toda a deferência pelo pessoal do lar, parecia que aquele lugar seria o último para onde queria ser levada. E dei comigo a refletir sobre a condição da terceira idade. Quando já somos dependentes de terceiros para tudo, quais meninos regressados a essa condição depois duma vida inteira cheia de alegrias e tristezas, acabamos por ser rejeitados pela família, que a coberto da falta de tempo, ou de condições, lá os vão depositando num local onde vão para morrer. (E estes de quem falo poderiam ter empregados para cuidar deles porque têm bem posses para isso). Esses mesmos idosos que, certamente, cuidaram dos seus filhos com esmero e dedicação, passando horas infindáveis sem dormir para que os seus filhos o pudessem fazer, sentindo o aconchego dos progenitores. Pessoas que se sacrificaram uma vida inteira para que os seus filhos tivessem as oportunidades que eles nunca tiveram e que depois, os atiram para estes centros para terminarem os seus dias, sem darem trabalho à família e morrerem longe do olhar. (Embora depois lá vão fazer a costumeira carpideirice no velório onde aparecem os amigos para testemunhar a "dor"). Sempre me incomodou esta sociedade falsa que gera nas suas entranhas este desprendimento. Aqueles que lá vão deixar os seus idosos e saem com o semblante de alívio, esquecem-se que um dia, eles também envelhecerão, e quando não puderem cuidar de si, outros se encarregarão de os levar para esses mesmos antros. (A talhe de foice quero aqui deixar o testemunho duma jovem que enviou o seu pai para um lar onde veio a morrer pouco tempo depois, porque "não tinha forças para cuidar dele", embora tivesse tempo para passeatas e outras coisas bem mais prosaicas. Mas enquanto ele lhe foi útil, quando lhe deu milhares de euros para ela organizar a sua vida, já ele era um bom pai!). Enfim, uma sociedade desumanizada, onde as pessoas valem cada vez menos, e a família não passa duma figura de retórica. Por ironia do destino, em frente existe um infantário onde algo de semelhante se passa, mas de sinal contrário. (E este também não é para todas as bolsas!). Sobretudo, no Verão, é ver os pais trajados a preceitos para irem para a praia, mas a deixarem os seus filhos no infantário - mesmo no período de férias - para que estes não sejam um estorvo para eles e até uma fonte de preocupação por ter que os vigiar. Serão estes os filhos "enjeitados" que depois deixam os seus pais, quando velhos, nos lares para onde os atiram sem apelo nem agravo? Se calhar sim. Mas a reflexão que aqui quero deixar-vos é que fiqueis a pensar sobre a condição do ser humano enquanto dependente. Na meninice e, mais tarde, na velhice. Não sei se um condiciona o outro ou não, mas sei que este mundo anda às avessas, onde o conceito de família cada vez tem menos valor. Aquele conceito de família que me inculcaram enquanto menino, já lá vai bastante tempo. Talvez por isso, eu já esteja desfasado. Talvez não compreenda os meandros do mundo dos nossos dias. Mas não me importo. Talvez até prefira assim.

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