Natal de novo! Mais um Natal que para muitos - diria mesmo a maioria - é sinónimo de mesa farta, prendas, luzes a piscar na árvore e um presépio a preceito. Mesa farta para se encherem até não poder mais, e quantos se lembrarão de quem nada tem para comer? Prendas, se possível caras e tecnológicas, e quem se lembra de quem não as tem, (quiçá, nunca as teve)? Luzes a colorir a árvore de Natal e um presépio, muitas vezes sem conteúdo, apenas porque é tradição, e quem se lembra daqueles que os terão mais tristes - se os tiverem - porque a vida nem sempre permite tais galanteios sazonais. Mas tudo isto é o costume, (como é usual em algum direito), mas vazio de significado. O Natal para mim, - e já o afirmei aqui muitas vezes -, é um pouco mais introspetivo. É a noite das memórias dos ausentes, (sejam familiares ou não), daqueles que foram colorindo a minha vida já com alguns anos. Pessoas e animais porque para mim a diferença é nenhuma, e quando a faço, normalmente são os humanos que saem a perder. Mas quantos de nós o fazem? E talvez alguns o quisessem fazer, mas os ruídos à nossa volta são imensos que não dão espaço para a reflexão. Por vezes, temos a sensação de que o ir para um qualquer deserto será o desígnio porque no nosso espaço nem sempre - talvez nunca - o poderemos fazer. São os ruídos dos telemóveis, tablets, computadores e afins. São os ruídos de músicas quase sempre de qualidade duvidosa. São os ruídos do patrão no emprego, dos que nos rodeiam, dos carros, enfim, tudo aquilo que não deixa o nosso espírito fluir, navegar. Mesmo dentro de casa há ruídos que nos abafam o pensamento, porque a reflexão passou a ser uma coisa a que poucos dão valor, mergulhados que andam nos ruídos estridentes do mundo. Este é um outro Natal, talvez até duma certa maioria, mas seguramente que não é o meu. O Natal sempre foi para mim, - sobretudo quando atingi uma idade de mais entendimento -, esse espaço de memória e reflexão. Não quer dizer que não nos divirtamos nessa ocasião. Apenas quer dizer, que seria bom que reservasse-mos um certo espaço, um pouco desse tempo, para nos questionarmos, para mergulhar nas nossas memórias. Sei que é difícil e talvez ininteligível para muitos esta minha afirmação, mas este é o tal Natal (o dos simples como diz o poema) aquele outro Natal mais de acordo com uma tradição que adulteramos em função dum certo mercantilismo, dum consumismo que todos criticamos mas que todos elegemos, não dando espaço a esse outro Natal. O verdadeiro daqueles que nada ou pouco têm, dos animais que sofrem ao frio e à fome, maltratados pelos seres dito humanos. Da natureza espoliada de árvores que se engalanem por uns dias, que logo vão para o lixo. O daqueles que foram os nossos maiores em vida, que nos ajudaram a caminhar, a trilhar os caminhos da vida, que nos ajudaram a ultrapassar os escolhos que o destino nos vai colocando no percurso. Quem o faz? Ofuscados que estamos pela mesa farta, prendas amontoadas e quase sempre inúteis, que a dita tradição mercantil nos impôs. Esse não é o meu Natal porque, felizmente, mesmo rodeado de muita gente, de muito ruídos, consigo abstrair-me, mesmo que em pensamento, e navegar numa outra dimensão, mais calma e serena, mais interior ao meu ser. Assim celebro o meu Natal. Agora que a prosa já vai longa, quando a perspetiva do jantar animou definitivamente a cozinha, agora que a euforia da última compra se apodera de muitos, é tempo de vos libertar de tão enfadonha prosa. Apenas ficam os usuais e costumeiros votos dum Feliz Natal, sinceros e do coração, para todos vós. Despidos de preconceitos e ruídos estridentes. Apenas e só um sereno e singelo, Feliz Natal!
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