A 'geringonça' europeia
Temos difíceis estes que estamos a viver. Não só em Portugal, mas na Europa e até no mundo. Este tornou-se num lugar perigoso, sem liderança, os mesmos pecados de que enferma a União Europeia (UE). Se essa falta de liderança e de rumo já tinha sido visível em problemas mais longínquos como foi, por exemplo, o problema dos Balcãs, agora ele torna-se mais evidente e claro com a crise dos refugiados. A Europa que ajudou a abrir a 'caixa de Pandora' no norte de África, - de que a invasão do Iraque foi o primeiríssimo sinal a que, vergonhosamente, Portugal ficou associado -, até à maneira como abandonou as forças que em determinada altura apoiou no terreno, como aconteceu com os curdos. A Turquia (que pretende aderir à UE) rasgou um acordo que fez com esta e que durou pouco mais do que uma semana (!) sobre a questão das fronteiras face aos refugiados, não quer que os curdos sejam apoiados, dando assim de mão beijada o protagonismo à Rússia que, até o tem aproveitado muito bem, e que será talvez uma das forças que sairão vencedoras de tudo isto, quando os conflitos na zona terminarem. Mas aqui, se viu com clareza, que a Europa nada tinha para acrescentar. A mesma Europa que está a ficar cada vez mais refém da xenofobia e do racismo, que são potenciados pela crise dos refugiados, e que a estão a corroer até à medula. A questão é o aceitar-se uma Europa cada vez com mais muros, quando na sua génese estava o derrube deles. Aceitar que os radicalismos nacionalistas comecem a ganhar terreno, como está a acontecer na Hungria, na Polónia, a maneira como espreita em França. A possível saída da Grã-Bretanha - o chamado 'Brexit' poderá ser a pedrada no charco numa UE já tão debilitada e afetada. Mas na essência de tudo isto, está a maneira como a Europa está a definhar, com crescimento incipiente, com desemprego galopante, com a desregulação do tecido sócio-económico dos países, fruto das suas próprias opções. Portugal é bem o exemplo disso. Com tantos problemas a Europa parece estar preocupada com os países do sul, - desde logo com Portugal -, onde o espetro de sanções sobre o défice excessivo poderão ser uma realidade. Sanções depois do muito sofrimento que causou às populações a sua estratégia de austeridade e desenvolvimento que, afinal, não deram em nada como era previsível. E agora, parece que também não aceitam a governação portuguesa que sai fora dos ditames de Bruxelas. Querem criar dificuldades ao governo português, acusando-o de ter os números contra si - o que até é verdade -, só que esses números derivam duma ingerência inqualificável, obrigando o governo a governar com um programa bem diferente daquele com que se apresentou ao eleitorado. (Estou à vontade para falar de tudo isto porque até nem sou apoiante de António Costa, mas acho injusto que tal esteja a acontecer, até porque no final, somos todos nós que pagaremos a fatura). No entretanto, os partidos da direita, - sempre hipócritas e saudosistas -, vão tendo um certo tremendismo, por cá são contra as sanções, mas em Bruxelas não o são tanto assim, (basta ver que o Partido Popular Europeu (PPE), partido onde se situa o CDS/PP e o PSD, tem sido aquele que mais tem pedido a mão pesada da UE), talvez pensando que se isso acontecer, talvez seja o fim da 'geringonça' e o seu regresso ao poder, coisa que têm em mente no curto prazo. Mas talvez nem seja preciso tanto. Se se vier a verificar o 'Brexit' haverá uma terrível machadada na UE que talvez lhe seja fatal. E com o fim da 'geringonça' europeia o problema ficará resolvido por natureza. Sou um europeísta e até, - como já por diversas vezes o afirmei -, um federalista. Mas não me reconheço nesta UE sem rumo, sem liderança, hipócrita e mesquinha, onde até o conceito de Democracia é posto em causa. Mesmo dentro da UE, basta ver a liderança da Alemanha, que a exerce de forma grosseira e arrogante, tão grosseira e arrogante, como aquela outra Alemanha dum outro tempo - não tão longínquo assim -, que produziu duas guerras mundiais e milhões de mortos. Esta Europa que era um sonho de fraternidade e paz, está de facto, a virar 'geringonça' na assunção mais literal do termo.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home