Turma Formadores Certform 66

Tuesday, October 04, 2016

A farsa dos fundos comunitários

Quem me conhece, quem me viu já em palestras, seminários ou conferências, sabe que tenho uma vertente europeísta profunda e, até indo mais longe, uma polémica assunção federalista. Contudo, e talvez por isso mesmo, venho assistindo com profunda perplexidade a este bailado dos fundos comunitários entre tantos outros disparates. As coisas ainda não azedaram muito em virtude da situação espanhola de total indefinição, caso contrário, já o teriam sido para Portugal. Porque Portugal tem um governo à esquerda que não agrada aos ultraliberais que controlam a União Europeia (UE) neste momento, os mesmo que apoiam uma candidata de última hora à liderança da ONU, ela também uma ultraliberal. Aliás, é do PPE que as críticas têm vindo mais acesas, o que leva alguns eurodeputados portugueses que nele se encontram acobertados, a terem uma estratégia de defesa de Portugal frente às câmaras de televisão e outra nos bastidores. Como se tudo isto não bastasse, temos um comissário a dizer que vão haver sanções, mas que afinal não serão aplicadas!!! Que brincadeira é esta? Como ontem um dos comissários espanhóis dizia 'isto é uma farsa'. Ainda ontem em Lisboa, o comissário europeu Günther Oettinger, - um alemão naturalmente -, falava num segundo resgate a Portugal, para que mais tarde viesse a dizer que não era bem assim, e que até achava que este não viria a acontecer!!! Uma total irresponsabilidade na tentativa de instabilizar um governo que não é o que gostariam de ter, - e porque não condicionar um orçamento de Estado para 2017 -, não medindo o impacto que afirmações irresponsáveis como esta, têm no âmbito internacional. (Ou talvez seja essa instabilidade que pretendem criar para justificar tudo o resto). É a própria Comissão Europeia (CE) que alerta para o perigo de afirmações destas produzirem dificuldades aos países mais vulneráveis, a mesma CE que permite que afirmações deste tipo possam ser produzidas impunemente. Confesso que eu, (que me assumo como europeísta e até federalista), tenho algumas dificuldades em entender. Porque o fragilizar um país é fragilizar a UE, mesmo que esse país seja pequeno e periférico. Mas também, aplicar medidas que estão a travar o crescimento não são também de fácil assimilação. (Afinal o tal crescimento que exigem que seja mais claro). Todas estas atitudes só servem para descredibilizar a UE. Esta UE que se está a autodestruir. É que depois do Brexit, outros 'exit' poderão existir. Numa altura em que Portugal está a caminho de atingir um défice histórico como há muito não se via entre nós, é quando tem sobre a sua cabeça esta espada de Demócles que não se compreende. (Será que farão o mesmo com a França que não vai atingir os objetivos impostos pelos tratados da UE?) Quanto ao aumento da dívida essa não parará enquanto esta não for reestruturada. Todos sabem disso mas fazem de conta que não. Estas atitudes estão a levar a uma descrença no projeto europeu que começa a abalar o âmago da própria UE. E assim vemos uma onda eurocética a crescer avassaladora sem que pareça possível que seja travada. Eu que, como atrás afirmei, sempre fui europeísta e até federalista, começo a pisar os terrenos do euroceticismo. Porque há atitudes que não se compreendem, mesmo quando estas possam ter a ver com um plano mais abrangente, que não é dado a conhecer às populações.

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