Turma Formadores Certform 66

Saturday, April 08, 2017

16 anos depois

16 anos passaram e parece que foi ontem. 16 anos de dor e sofrimento. 16 anos de pensamentos nem sempre muito construtivos. 16 anos de perdão dado mas não esquecido. (Há quem diga que isso não é perdão. Talvez seja assim!...). Fui perdendo toda a minha família, uma pessoa após outra, num espaço muito curto de tempo. Apesar disso sempre fui ultrapassando as situações. Afinal é o ciclo da vida. A única certeza que temos desde que nascemos. Mas o caso de minha Mãe perturbou-me muito. Pelo contorno virulento que teve. Pelo acicate de que foi alvo. Pela desfaçatez que encerrou. Há muitas formas de eliminar pessoas - nem sempre o tiro ou a facada são a ação definitiva - há formas mais subtis de o fazer. Aquela mais refinada de tortura psicológica que despoleta outras situações quiçá adormecidas ao longo duma vida. Confesso que passado todo este tempo ainda me sinto incomodado. Perdoar é um ato nobre mas nem sempre fácil. Eu sou um homem de fortes crenças e o perdão ocupa um espaço importante. Por isso também me sinto confuso. Porque muitas vezes o perdão embora dito e assumido é traído pelo coração. O coração que evita tal atitude, assim, sem mais. Talvez isso não seja um perdão. Talvez... A minha Mãe antes de partir, sempre me disse para perdoar que ela também já o tinha feito e não queria ir embora com esse peso no coração. Prometi-lhe isso. Demorou anos até conseguir. Contudo, ao fim de todo este tempo, por vezes me interrogo se o fiz de facto. Será que no meu coração esse perdão reside? Quero crer que sim, embora não tenha a certeza. E isso atormenta-me porque com a minha crença profunda não deveria haver espaço para a dúvida. Mas ela existe e nada posso fazer para alterar tudo isto. Mas esforço-me. Diariamente... Porque cada dia será um revisitar de memórias, - nossas ou alheias -, mas todas elas importantes para a nossa aprendizagem da vida. Este é o meu purgatório. 16 anos passaram e as memórias permanecem. Perdões dados. Não sei se assumidos embora queira que fossem. 16 anos de profunda dor. Apenas essa derradeira imagem duma Mãe em leito de morte a dizer-me para perdoar. Porque só assim a ajudava na sua caminhada noutra dimensão. E eu a prometer-lhe que sim. Mas o coração a interrogar-se. 16 anos depois essa batalha ainda continua. Por vezes amaciada pelo tempo. Por vezes viva de revolta. Mas quero crer que sim. Que a estrada da luz não lhe seja negada pela minha fraqueza. Pelo menos que o meu sofrimento ao longo de todo este tempo sirva como penhor da minha fragilidade. 16 anos passaram e parece que foi ontem. Era então domingo de Ramos. (Desde então, creio que este dia 8 de Abril nunca mais coincidiu com o domingo de Ramos. Apenas uma curiosidade. E acho que quando tal acontecer será a minha vez de partir. Apenas uma intuição). Mas teve que ser assim. Estava escrito que seria assim. Como alguém me disse à guisa de conforto 'que lindo dia ela escolheu para morrer'. Confesso que não pensei assim. Mas o tempo foi-me mostrando que era melhor seguir em frente. Com um fardo pesado às costas, sim. Mas seguir adiante, sem esmorecer. 16 anos passados a memória existe marcada a fogo no pensamento. 16 anos depois só me resta pensar que esteja em paz. Até sempre minha Mãe!

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