"Quando Portugal Ardeu" - Miguel Carvalho
Trago hoje uma proposta dum livro muito interessante quanto perturbador. Trata-se de "Quando Portugal Ardeu" da autoria de Miguel Carvalho um prestigiado jornalista que colaborou em alguns jornais como 'O Independente' e o 'Diário de Notícias'. Venceu em 2008 o prémio Orlando Gonçalves para jornalismo e o Grande Prémio Gazeta do Clube dos Jornalistas em 2009. Este jornalista nascido no Porto também tem visto serem referidas as suas reportagens em orgãos internacionais como o 'The New York Times', o 'El País', 'The Daily Telegraph', revista 'Veja', 'O Globo' ou a revista Piauí. Miguel Carvalho, no seu jornalismo de investigação, quis rever as histórias e segredos da violência política no pós-25 de abril. Vai daí, contactou alguns dos maiores protagonistas desse tempo, - independentemente de que lado da barricada estavam -, e quais fossem os seus credos políticos à época e agora, Desse trabalho resultou uma imagem impressionante dum dos períodos mais conturbados da História recente do nosso país. Desde figuras destacas da Igreja nessa época, até algumas figuras da política desses dias (e até dos nossos dias), - visto algumas ainda estarem no ativo -, este livro surpreende pela clareza, mas também pela maneira frontal como enfrenta as situações. Desse período, ressalta a famigerada rede bombista que pôs o país à beira duma guerra civil. "(...) a rede bombista deu-me todas as razões para nunca votar no PSD. Nem que vivesse cem anos. Era a pior escória que havia neste País. (...) Toda a gente que perdeu privilégios com a revolução enfiou-se no PSD. (...) A maioria dos retornados filiou-se no PSD, o CDS nem contava. Aliás, ainda hoje somos governados pelos filhos dos retornados. De onde veio o Passos Coelho? Olhe para a composição dos últimos governos e veja de onde veio uma parte dos governantes." Estas palavras são do coronel Ferreira da Silva - à época capitão - que chegou a chefiar a Polícia Judiciária Militar, veio a ser chefe do Estado-Maior das Forças Armadas nos Açores. Chegou a desempenhar os cargo de juíz auditor do 1º Tribunal Militar e, mais tarde, seu juíz presidente. É surpreendente olhar para estas afirmações, passados que vão mais de quarenta anos sobre os factos, e vermos como pessoas da política, que todos os dias nos entram pela casa adentro, podem ter uma outra imagem bem diferente daquela a que estamos habituados a ver. É uma verdadeira sala de espelhos, onde as sombras são realidades, e as realidades, por vezes, não passam de sombras. Alguém no livro diz 'estivemos mais próximos duma ditadura de direita do que de esquerda' embora, a maioria das pessoas tenha uma opinião diversa. Um livro muito interessante para compreender um período em que Portugal quase se dividiu a meio, se afundou numa guerra civil necessariamente sangrenta. Um testemunho para a História do país, mas também dos seus protagonistas. Alguns com comportamentos bem diferentes do que sempre julgamos que tinham. Quanto ao julgamento dos factos e dos seus intervenientes, fica para cada um depois de lerem estas mais de quinhentas páginas deste livro. Um livro que é um documento muito importante para o melhor conhecimento da nossa História recente. A chancela é da Oficina do Livro. Recomendável a todos os títulos.
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