Turma Formadores Certform 66

Monday, September 25, 2017

A encruzilhada alemã

Ontem um novo rumo aconteceu, quer para a Alemanha, quer para a Europa. A vitória de Angela Merkel foi uma típica vitória de Pirro. Doze anos no poder é demasiado tempo e isso foi claro. A contrabalançar isto, os alemães desviaram o seu voto para a AfD (Alternative für Deutschland), partido de extrema direita que acaba por entrar no Bundestag e com um resultado importante. Se se analisar bem as votações, fica-se com a sensação de que este partido acabou por 'engordar' com os votos transferidos da CDU (Christlich-Demokratische Union Deutschlands) e do SPD (Sozialdemokratische Partei Deutschlands) oriundos de gente desiludida com a 'grande coligação' anterior. Porque Merkel não é tão popular na Alemanha quanto se julga no resto da Europa e com um SPD que apesar duma nova liderança, ainda está longe das grandes causas que defendeu noutros tempos. E com estas pontas soltas, a Alemanha acaba por criar uma situação inédita para si mesma. Todos os partidos já disseram que não se coligariam com a AfD, mas como o SPD ainda ontem anunciou que não voltaria a participar na 'grande coligação', a Merkel só resta uma solução improvável, da 'coligação Jamaica', juntando-se com os liberais do FDP (Freie Demokratische Partei) e com Os Verdes (Bündnis 90 / Die Grünen ou Grüne). Coligação nunca tentada e com algumas interrogações pelo meio. Sabe-se que entre os liberais e os ambientalistas, as relações não são as melhores, mas parece não existir outra alternativa. O SPD na oposição, se ontem pareceu um fator de perturbação para muitos, pode até vir a ser benéfico para contrariar a oposição do AfD, e não os deixar praticamente sozinhos a afrontar o governo. O certo é que a Alemanha está numa encruzilhada. Merkel terá que tratar este assunto com pinças. E a Europa está preocupada. Porque goste-se ou não, a Europa no momento atual, precisa dum líder forte e nenhum parece sê-lo quanto Angela Merkel. Este é um dos dramas que a Europa atualmente enfrenta, mas para o qual ainda não encontrou nenhuma resposta. Daí o drama de ambos. Nem a Europa gerou nenhuma liderança forte alternativa a Merkel, nem a Alemanha foi capaz de a gerar internamente. No entretanto, Merkel continua, mas agora, com enumeras incertezas no seu caminho. Apesar de a Alemanha viver um dos seus períodos mais prósperos de sempre, tal não significa que as coisas estejam estáveis e não estão. A extrema direita, com forte implantação naquilo que era a antiga RDA, vai-se insurgindo contra a política de emigração. Não esquecer que essa parte da Alemanha nunca teve grande tradição de fluxos de pessoas, que não eram incentivadas pelo antigo Bloco de Leste, e assim tem campo fértil para a sua ideologia. Isso só por si, diz bem dos desafios que a Alemanha tem pela frente nos próximos tempos e a que a Europa não pode ficar indiferente.

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