Intimidades reflexivas - 1153
"A delicadeza é vontade de abraçar com as palavras, beijar com as palavras, assumir as palavras. Gentileza não é para qualquer um. Não é boa acção, não é ajudar alguém atravessar a rua, mas ajudar a atravessar o rosto. Gentileza não pede recompensa, não conta pontos ao paraíso. Gentileza é ser mais do que estar. É cuidar sem precisar ser cuidado. É compreender sem necessitar perguntar. Delicadeza é uma felicidade que não acaba nem com a tristeza. É uma gana de viver que não termina nem com a dor. Delicados são os que guardam uma letra de música para dizer um dia a sua companhia predilecta, é dançar coladinho na sala com a própria voz, é lavar pratinhos dos vasos na chuva. É se importar com aquilo que tem necessidade, é criar necessidades do nada. É perder tempo pensando no outro mais do que em si mesmo, é ceder espaço para o outro mais do que a si mesmo. É um gesto natural, amar a disposição, amar o que vem pelo acaso, amar o capricho, fazer as coisas tão acabadas que o embrulho é o próprio presente. Gentileza é uma paixão responsável. É quase uma telepatia se não fosse presença completa. A presença é sempre maior do que a telepatia." - F. Carpinejar
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