44 anos depois
44 anos passaram sobre aquela madrugada que encerrava em si todas as esperanças dum povo. Todos os regimes - sobretudo aqueles onde a liberdade não existe - quando se prolongam por muito tempo, acabam por gerar no seu seio os germes da mudança. Nas democracias é diferente, porque a sua forma eclética vai absorvendo todas as ondas de choque da sociedade. (Veja-se o caso britânico com uma democracia com séculos de existência). Assim, depois de 48 anos de ditadura, já todos estavam fartos dum regime que era incapaz de dar solução aos problemas que o país então enfrentava, sendo a guerra colonial um dos maiores. O próprio regime percebeu isso. A ascensão de Marcelo Caetano, - depois da morte de Salazar -, e a abertura que então se verificou, embora ténue, dava sinais de que algo teria que acontecer. E aconteceu. Em abril de 1974, já lá vão 44 anos, tudo tomou outro rumo. É certo que muito se passou desde então, mas globalmente o país entrou num grupo de países europeus desenvolvidos donde estava arredado com o anterior regime. Nem tudo têm sido rosa. Nunca o é na História dos povos seja qual for a parte do mundo em que as mudanças se verifiquem. Mas sabendo que estas têm espinhos, não deixamos de lhe apreciar o perfume. E então nem rosas foram, mas sim, cravos. Os cravos que enfeitaram os canos das metralhadoras dos soldados, mas também, que enfeitaram o imaginário dum povo. Muita água correu sob as pontes desde então. Nem sempre como gostaríamos que fosse. Mas no essencial valeu a pena. Hoje, passado mais de quatro décadas desde esse dia 25 de abril, será que vale a pena ainda o celebrar? Creio que sim. Embora às novas gerações isso nada diga - afinal eles são os filhos da liberdade e nem sabem o que é viver em ditadura - será sempre importante porque leva a que a curiosidade apareça e as perguntas também. Para as gerações mais antigas, é a oportunidade de lembrar esse dia, e ensinar o que ele encerra de significado às gerações mais jovens. E é bom que o façamos e bem, face a um avolumar em diversos países europeus, de certas ideias anti-democráticas. Será importante explicar aos jovens o significado da liberdade - que muitos confundem com libertinagem - o que isso significa para um país e um povo, mas também mostrar, que nada está adquirido e que é sempre possível o retrocesso. É importante que as novas gerações estejas alertadas para isso e não se deixem levar por cantos de sereia que encerram em si sementes de ódio. 44 anos depois é importante continuar a celebrar abril. O seu significado é importante para moldar o coletivo que todos representamos. O cartaz que aqui reproduzo foi talvez, o mais bonito e significativo de então. E nessa criança que coloca o cravo no cano da metralhadora segurada pelos três ramos das Forças Armadas, significará sempre a nova geração que vai surgindo e que transporta em si os anseios de liberdade. Aqui o trouxe de novo para que esta imagem sirva de interrogação sobre aquilo que já fizemos, ou não, junto das novas gerações. Aqui fica sempre a questão incómoda mas pertinente sobre o trabalho feito. Tudo o resto são pedaços da História dum país onde tantos já se aproveitaram dela com fins menos nobres. Viva o 25 de Abril!
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