Um ano passou!...
Faz precisamente hoje um ano que o Nicolau teve o AVC que o prostrou durante meses. Pensei na altura que seria o fim dele. Preparei-me para a partida, - embora dizer isto seja um eufemismo -, nunca estamos preparados para a partida de quem amamos. Viu-o deitado sem se poder erguer, os membros atrofiados, a cabeça inclinada, totalmente paralisado. Parecia louco (talvez até nem nos reconhecesse) as suas funções pareciam estar a definhar a todo o momento. Contactamos o hospital veterinário que habitualmente acompanha os nossos animais. Uma equipa de três vet's, liderada pela Dra. Susana Melo, apareceu logo de imediato. Ele estava imobilizado e sem sinais de se poder erguer mais. Dificuldade imensa em respirar. Foi uma luta tenaz para o recuperar. Nós estávamos desiludidos. A Dra. Susan Melo - a quem aqui quero publicamente agradecer - dizia-nos que pensava que ainda não seria o fim. Ela acreditava. Nós nem por isso. Confesso que em determinada altura duvidei. Mas com o tratamento o Nicolau foi recuperando muito lentamente até voltar a andar. Entretanto tinham passados dois meses em que tínhamos que o trazer dentro dum lençol a servir de maca para que viesse cá fora fazer as suas necessidades fisiológicas. (Apesar de tão doente, o Nicolau sempre se recusou a fazer fosse o que fosse dentro de casa). Mas era difícil para um cão com um peso próximo dos quarenta quilos. Era muito difícil transportá-lo várias vezes ao dia, durante muitos dias, durante dois meses, sempre a fazer esta operação. Frequentemente os vet's apareciam mas o Nicolau tinha melhoras muito reduzidas. Diziam sempre que ele tinha escapado desta, mas as sequelas com que ficaria não se conseguiam apreender nessa altura. A partir de então fomos informados que o Nicolau nunca mais poderia ficar sozinho e se não pudéssemos assegurar essa permanência junto dele ele teria que ser eutanasiado. Não queríamos isso, e os vet's também não. Aconselharam-nos o melhor possível. Assim decidimos alterar a nossa vida. O Nicolau não poderia subir as escadas para a parte superior da casa onde ele sempre viveu e onde gostava de estar. A nossa vida ficou de pernas para o ar a partir daí, mas o Nicolau nunca estaria só. Tudo faríamos para o ajudar a recuperar ou a terminar os seus dias na nossa companhia. (Os nossos animais não costumam morrer sozinhos). Até que um dia deu-se um milagre pela mão duma criança como não poderia deixar de ser. As crianças têm esse condão. A nossa afilhada Inês que até aí tinha evitado vir a nossa casa - coisa que até apoiávamos - para não ver o seu amigo naquela postura, um dia ganhou coragem e quis vir vê-lo. Minutos depois os vet's apareceram como era habitual e frequente. Ela, que apesar da sua tenra idade sempre vai dizendo que quer ser veterinária, assistiu à consulta. Nessa altura, e com a nossa persistência, obrigando o Nicolau a fazer cada vez mais exercício, conseguimos que ele começasse a dar alguns passos ainda muito inseguro. Os vet's não sabiam e quando viram tal ficaram muito animados. A nossa afilhada Inês, já menos impressionada com o sucedido, começou a aparecer. O Nicolau adora-a como ela a ele. Um sábado a Inês subiu as escadas, e ele na ânsia de a seguir e sem que déssemos por isso, subiu atrás. Com enormes dificuldades, ofegante, quase sem poder respirar, mas foi. Uma criança tinha patrocinado um milagre que só o amor que crianças e animais poderiam ter produzido. A partir desse dia, o Nicolau começou a subir as escadas cada vez com mais facilidade e queria ir para os seus locais habituais. Assim foi e assim tem sido neste ano volvido. Embora muito limitado na marcha e com a cabeça sempre inclinada - coisa que poderia ter recuperado em dois meses ou ficaria para sempre assim segundo os vet's - o Nicolau nunca mais parou. Sempre acompanhado e apoiado por nós. A Inês quando vem ele fica eufórico com a visita. Até parece que lhe dá mais força. Passado este ano, sempre apoiado por medicação e pela nossa ajuda, o Nicolau vai tendo a vida possível, a autonomia possível. Sabemos que um dia será o fim da linha mas enquanto o tivermos será uma benção. Muito dinheiro temos gasto para lhe dar alguma qualidade de vida, mas não o lamentamos, o Nicolau merece tudo isso e muito mais. Como dizia a Dra. Susana Melo 'poderá durar mais um ou dois anos, depende da força que ele tiver, mas enquanto o tiverem convosco será bom'. E tem sido bom. Estamos informados que poderá morrer dum dia para o outro, mas não queremos pensar nisso. O Nicolau que eu resgatei à rua numa véspera de Natal vai para quinze anos e meio, debaixo de forte temporal, será sempre o meu companheiro de jornada. Tudo faremos para que ele sinta sempre o calor dos seus donos e o amor que lhe temos até que os seus dias se esgotem. Passou um ano! Confesso que nunca acreditei que tal sucedesse. Confesso que nunca acreditei que ele alguma vez pudesse voltar a subir escadas. Mas ele aí está. Este guerreiro quer mostrar que com força de vontade, determinação e muito amor, tudo é possível. Parabéns, Nicolau por esta tua vitória. Que assim te mantenhas por mais algum tempo para felicidade nossa e tua também com certeza. Aproveito para agradecer a todas as pessoas que acompanharam então os meus desabafos em torno da situação do Nicolau e da força que me deram. Como também agradeço a todos os outros que, volta e meia, me perguntam novas do Nicolau, que vou divulgando de vez em quando. A todos vós o meu muito obrigado.
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