Turma Formadores Certform 66

Saturday, June 22, 2019

Um mês depois fica a enorme saudade

Um mês volvido e as recordações são avassaladoras. Estas aumentam na razão inversa do tempo que se esvai. Um mês passou e parece que foi à pouco que o Nicolau se desprendeu da vida e da nossa convivência. Um mês pode ser algum tempo, mas não o suficiente para um luto por um ser muito amado. O Nicolau está presente nas nossas vidas. Em pequenos ruídos, em gestos, em odores, é como se ele ainda por cá andasse. Pode parecer estranho esta imensa dor por um animal. Mas o Nicolau não era um animal qualquer, era um membro da família, e como tal é lembrado e venerado. Um mês ainda não é o tempo suficiente para que a memória atire para a poeira do esquecimento um ser nobre como ele era.  O Nicolau foi um ser fiel e amigo, nos bons e maus momentos, sempre ao nosso lado com aquela boa disposição que transparecia do seu sorriso, daquele sorriso que ostentava como um símbolo. Foram dezasseis anos e meio de convívio, especialmente os últimos dois, com a proximidade inerente à sua dependência fruto da doença que o corroía. E isso faz toda a diferença. Ainda me recordo com dor acrescida, daquele momento em que o Nicolau chorou. Uma lágrima enorme rolou pela sua face e que eternizei em foto que disponibilizei neste espaço. Foi um momento que me marcou para a vida. Já tinha assistido à partida de muitos animais, alguns que me morreram nos braços e nunca tinha visto nada assim. E isso fixou-se em mim como um ferrete, aquela dor da partida, de deixar aqueles que dele sempre cuidaram e o amaram e que ele amava também, porventura o medo do desconhecido longe da nossa companhia. Tudo isto me atravessa a memória dia após dia e já trinta passaram. Como noutros tempos em que ele visitava a sepultura da sua mãe adotiva, agora sou eu que o faço. Dou por mim a visitá-lo diariamente como uma espécie de ritual. Tenho necessidade disso, preciso disso. Tive animais praticamente desde que tenho memória de ser vivente, todos eles foram muito amados. A todos distribui o meu amor e carinho. Mas o Nicolau era especial. A sua vida começou com um infortúnio e então cruzamo-nos. A sua vida mudou e a minha também. Sempre estivemos juntos ao longo da sua extensa existência. Sempre. Dias, meses, anos, num somatório de tempo que nos levou a conhecermo-nos bem um ao outro. Sempre caminhamos lado a lado. Em nenhum momento o Nicolau ficou para trás. Ele sabia disso e tinha a sensação do muito amor que o envolvia. O amor agora continua sob uma outra forma, a sua presença é que deixou de existir, também ela assumindo uma forma diversa. Um mês passou e a memória não se cansa das muitas recordações que esta vida nos deixou. O Nicolau foi de facto um ser muito especial. Porque há seres assim, que têm o condão de nos amarrar para a vida e para além dela. Com o seu amor, a sua dedicação, o seu carinho. Ele foi tudo isso, reunido num único ser, belo e poderoso nos seus melhores dias, frágil mas digno na sua velhice. Jamais o esquecerei. Sempre estaremos juntos. Espero que esteja em paz, feliz  a brincar com os seus semelhantes no país do Arco Íris. Descansa em paz, Nicolau!

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