Turma Formadores Certform 66

Saturday, July 25, 2020

Pandemia versus economia

Estamos a passar por tempos difíceis do ponto de vista sanitário como nunca pensamos ver no decurso das nossas vidas. Todos queremos que tudo isto passe e depressa. Contudo esta pandemia tem efeitos colaterais que a maioria das pessoas ainda não se apercebeu. Com o confinamento perdeu-se tudo aquilo que se tinha conseguido em termos económicos e financeiros numa recuperação histórica que não passou despercebida aos nossos pares. Para além das fragilidades duma economia aberta dum país pequeno como o nosso, tudo o que então se atingiu foi notável. Mas se o confinamento evitou uma maior propagação do vírus teve efeitos sobre a economia devastadores. O lay-off, apesar de ter sido uma boa medida, não evitou que o desemprego fosse aumentando, embora a valores bem mais baixos do que se não tivesse existido, as exportações caíram a pique e as importações também, fruto do encerramento das fronteiras, tendo muitos empresários visto ir por água abaixo tudo o que tinham adquirido com os seus negócios. Com o desconfinamento alguns já nem sequer abriram porque já não tinham lastro financeiro para isso. E se as empresas não abrem, os empregos perdem-se. Depois foi o fenómeno do teletrabalho, medida que já há muito se falava nos meios empresariais e que a pandemia acabou por potenciar. Só que o teletrabalho que é muito usado em alguns países há muito tempo, no nosso é uma novidade e, como ainda não está devidamente regulamentado, pode ser uma arma contra quem trabalha, embora numa primeira fase possa parecer que não. A dívida sempre elevada e que teimamos em não conseguir encolher começou a aumentar de novo fruto de toda esta desregulação financeira, o mesmo se passando com o déficit a que voltamos depois de termos atingido um histórico superavit. Tudo isto deu uma volta de 180º e nada será como dantes. O retomar da economia tem sido lento e com muitos escolhos e assim continuará por muito tempo. Enfrentaremos no curto prazo uma crise bem maior da que vivemos há uma década atrás, e a maioria das pessoas nem disso tem noção. E não se pense que tem a ver com este ou aquele governo. Seja ele qual for, o espaço de manobra será muito curto e não haverá diferenças substanciais para além do discurso político. Quando o Primeiro Ministro fala em que não haverá austeridade, está de certo modo, a apelar à força de cada um de nós para nos prepararmos para o que aí vem. Em boa verdade ela já aí está, subreptícia, mas com a visão keynesiana desta governação, a austeridade poderá ser minimizada pelo investimento quer seja público ou privado. O extraordinário envelope financeiro que esta semana veio de Bruxelas pode ser o bálsamo para amenizar a situação. Mas será necessário um amplo consenso sobre os investimentos a fazer porque esta tarefa não será de uma só legislatura, mas de várias, não será de um governo, mas de vários. Contudo, e apesar de todas as conjeturas, temos que nos ir preparando e não ficar na praia a ver a onda formar-se e pensar que será uma ondazinha. Quando ela rebentar veremos que se trata dum tsunami e, se não nos formos preparando, não teremos tempo de fugir e escapar. Tempos muitos difíceis se avizinham. Tempos difíceis para todos nós. Tempos favoráveis para os populismos que por aí andam. É preciso estar atento para que ao fugir do tsunami nos atiremos para um abismo onde  ao fundo do  qual pensamos estar uma piscina de água cristalina e afinal só tem pedras angulosas. É tempo de nos mentalizarmos que o paraíso não nos foi negado, mas sim, que teremos que ter a provação do purgatório antes de lá chegar.

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