Turma Formadores Certform 66

Tuesday, August 11, 2020

Das estatísticas à realidade

Apesar de estar de férias nunca me desligo totalmente dos assuntos e quando eles têm a ver com a educação, ensino e cultura então não consigo mesmo. Tudo isto a propósito das estatísticas publicadas à umas semanas sobre as médias dos alunos do secundário. Já à muito que contesto isso porque tal não reflete a verdadeira realidade devido os exames não serem tão equivalentes assim. Mas enfim, é uma medida como tantas outras e deixemos as coisas como estão. Mas este ano ultrapassou-se os limites. Quando vi os órgãos de comunicação exultarem com o aumento das médias fiquei desconfiado. Como não gosto de falar só por falar, tentei documentar-me. Verifiquei que tal resultou dum abaixamento bastante significativo do grau de exigência dos mesmos face a anos anteriores. Falei com alguns professores e eles disseram-me o mesmo - alguns até o fizeram publicamente para as televisões - e vim a saber que tal foi generalizado mas acabou por ser mais evidente nos últimos anos que dão acesso ao ensino superior. E aqui fiquei preocupado. Desde à mais de vinte anos que o nível de ensino se vem degradando. Os conhecimentos dos alunos são cada vez mais esparsos dando lugar a uma série de profissionais que mais tarde, ou degradam as instituições onde trabalham, ou simplesmente têm a vida muito dificultada. Um professor disse-me que o nível de matemática era tão baixo 'que só não passava quem não soubesse ler ou escrever'. (Passe-se o exagero da frase). Mas estou convencido que assim é. Tenho um jovem amigo que está a candidatar-se a Economia. Passou com dezoito (!) a matemática e achei estranho porque sei qual o nível dos seus conhecimentos. Ele disse-me que também ficou surpreendido com tanta facilidade. Por brincadeira, dei-lhe um exercício do oitavo ano para ele fazer. Depois de dar muitas voltas ao assunto confessou que 'não sabia como pegar no problema'. Ele aluno do décimo segundo ano. Fiquei aturdido. Fruto da pandemia e em virtude dela não se optou e bem por uma passagem administrativa, mas na prática fez-se o mesmo apenas obrigando os alunos a irem fazer um exame. Sei que este problema é transversal aos vários graus de ensino. Mas confesso que alunos assim preparados terão uma vida bem dura nas Universidades. Embora estas também tenham de certo modo seguido o padrão vigente, ainda vão - pelo menos algumas - mantendo um elevado grau de exigência. E assim sendo, ou estes alunos vão eternizar-se nas escolas superiores ou então vão sair com um nível de conhecimentos muito duvidoso que os conduzirão a ser maus profissionais nas várias atividades que abraçarem ou simplesmente ficarem desempregados ou a receber um ordenado bem abaixo do que deveriam receber. (Conheço casos de jovens que estão a ganhar o salário mínimo - e até abaixo - sujeitando-se a uma situação inacreditável, ganhando menos que um bom operário qualificado). Coisas que não entendo num rumo errático que o ensino vem tomando à mais de duas décadas sem que se veja o fim no curto prazo. As estatísticas são bonitas, úteis, mas quando traduzem a realidade tangível não esta espécie de ficção a que estamos a assistir. Isto não é culpa da governação atual (mas também) mas, sobretudo, fruto de várias décadas de falta de exigência e rigor que forme profissionais de topo com qualidade. Assim, eles não terão qualidade nenhuma, e quanto a serem ou não de topo, que Deus nos livre de tal! 

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