Regresso às aulas
Nesta altura em que o regresso às aulas se vai fazendo acabo sempre a refletir sobre o que está a acontecer ao nosso ensino vai para algumas décadas. Tudo é mais incompreensível quando estas novas gerações têm acesso a níveis de escolaridade que as gerações anteriores, - como a minha por exemplo -, não tiveram. O que se vai notando é um desinteresse total pela escola, pelas matérias, em que a ânsia de saber é cada vez mais remota. Falo com muitos professores, dou várias conferências no ensino superior e no politécnico, e de ano para ano, vou vendo que parece haver um retrocesso no interesse em saber inversamente proporcional à escolaridade que se torna obrigatória. Culpa dos alunos? Talvez, mas não só. Aqui há uns largos meses atrás fui a uma conferência numa instituição de ensino superior. Como as matérias de que falo nem sempre são acessíveis a um auditório não especializado, tento por vezes aligeirar os temas convidando à participação das pessoas, alunos e/ou professores, para que tudo não passe dum monólogo aborrecido. Numa dessas sessões, introduzi o tema da motivação. Convidei a assembleia a falar sobre isso. A princípio fiquei surpreso porque só os professores falaram, dos alunos nem um pio. Lá fui insistindo com a ajuda de alguns professores e fiquei siderado. As motivações desta juventude na sua esmagadora maioria simplesmente não existem. Não têm objetivos e tudo para eles não passa dum aborrecimento. Um desses alunos, talvez interpretando o sentimento de muitos outros que não tiveram coragem para falar, disse-me que a motivação dele e o seu interesse em algo se resumia a três items: uma boa cama para dormir porque tinha sempre muito sono, um frigorífico cheio porque andava sempre com fome e um computador para as suas coisas. Fiquei espantado porque numa outra altura isto daria para umas boas gargalhadas o que não foi o caso. Aquele aluno (do ensino superior) encarnou aquilo que os seus colegas gostariam de dizer e não foram capazes. E esta que é a tal geração mais bem preparada de sempre dá nisto. No intervalo um dos professores veio falar comigo. Era professor do tal aluno que tinha falado e disse-me que ele até era um bom aluno porque a maioria era pouco mais que débil em conhecimentos e todos eles - ou a maioria - estariam de acordo com o seu colega. Questionei como é possível um aluno chegar ao ensino superior com estes 'interesses'. Foi-me dito que cada vez mais as pessoas estudam para passar exames e não para saber e que cada vez mais o nível cultural em geral é muito fraco. Questiono-me o que será deste país quando este geração assumir as rédeas da sua governação. Que país vai ser este. Sei que o fenómeno não é só português mas é o meu país que aqui me interessa. Sem motivação, sem interesse, colecionando cursos e canudos que não representa conhecimento - muito menos cultura - esta nova geração vai-se afundando em generalidades, superficialidades e pouco mais. Neste regresso às aulas dei comigo a pensar nisto que me incomoda e que deveria incomodar-nos a todos. Afinal é o futuro que está em causa e não uma qualquer bizarra acrimónia geracional. Confesso que tenho cada vez mais dificuldade em perceber. Se calhar o segredo é mesmo não tentar perceber.
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