Intimidades reflexivas - 1500
"Digo-lhe, Dona: quando ficamos calados, igual uma pedra, acabamos por escutar os sotaques da terra. A senhora num certo momento, há-de ouvir um chão marinho, faz conta é um mar sob a pele do chão. Aproveita esse embalo, Dona Luarmina. Eu tiro boas vantagens desses silêncios submarinhos. São eles que me fazem adormecer ainda hoje. Sou criança dele, do mar. - Lá criança, sim. Você há muito que esqueceu a idade. - Sabe o que dava jeito? Era a gente os dois nos combinarmos, está a perceber, Dona Luarmina? - Ajuíze-se, Zeca. - Faz conta somos verbo e sujeito. - Já conheço essa sua gramática… - A senhora, minha boa Dona, nem sabe quanto enriquece minha retina." - Mia Couto in 'Mar me Quer'.
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