Intimidades reflexivas - 1518

"Tratar de corpos ensina-nos que o castigo e a vingança se encerram sobre eles, como se inscrevem a decência, a perversão e o poder. E também o amor. Amar é um sentimento imenso. Não me refiro ao desejo de um corpo, à necessidade lúbrica de o possuir, de nos satisfazermos nele. Também não estou a falar das idiotices estéreis que nos traz o embelezamento. A ideia do amor propriamente dito traça-se num corpo. Narra-se esta necessidade sobre o corpo, que reclama amparo, que arrasta o júbilo, que modifica tudo em que toca. Aquele primeiro encontro era tão-só o início da nossa onda, uma conversa íntima, um diálogo que não terminou. Quando o conhecimento mútuo consegue puxar a corda do espírito, já não nos basta a voz. É preciso o corpo inteiro. Sim, eu também aprendi a balbuciar naquela noite. Aprendi a crescer sobre outro corpo, a pensar, a subir, a abandonar o que era, para ser outra coisa." - Cristina Fallarás in 'O Evangelho de Maria Madalena'.