Turma Formadores Certform 66

Tuesday, June 28, 2022

Um direito das mulheres

Assistimos a semana passada a um grave retrocesso civilizacional vindo dos EUA. Falo da revogação do direito ao aborto, abrindo caminho a que cada Estado legisle a seu belo prazer. É um fenómeno conhecido pelo das 'duas Américas' que está a dividir a sociedade americana. O retrocesso a um direito fundamental duma mulher dispor do seu corpo é no mínimo grave para não dizer outra coisa. Para alguns será uma grande vitória, embora não falem dos interesses inconfessáveis que defendem e que vão muito para além da questão do aborto. Como por exemplo, a introdução da religião nas escolas e das seitas que tanto proliferam nos EUA, como a da censura em bibliotecas públicas e escolares e pressão sobre os professores. Como se vê, a manobra é mais vasta e vai muito para além da questão do aborto. Tudo isto se prende com a aproximação do partido Republicano da extrema direita por pressão de Trump. Estamos a assistir a uma fenómeno de trumpismo sem Trump. Tudo muito lamentável. Mas voltemos à questão do aborto. Há quem faça desta questão algo fraturante de contornos religiosos. Tudo uma falácia. Sou católico e praticante, seja lá isso o que for, mas defendo o direito das mulheres disporem do seu corpo. É um direito que lhes assiste. Talvez não saibam que na América não existe apoio à maternidade, ou sequer consultas de planeamento familiar, tão comuns na Europa. A grandeza da América esconde realidades que nem sempre são perceptíveis para quem não conhece o país. No fundo é o ter como referência uma Constituição de 1787, isto é, do século XVIII (!) a reger o país. Tudo isto é lamentável e coloca os EUA partidos em duas realidades. O país que acha que não devem existir abortos em nome da vida é o mesmo que impede legislação para que se regulamente o uso de armas de fogo que são contra a vida. Tudo muito estranho numa sociedade complexa e contraditória. O direito ao aborto é fundamental numa sociedade moderna. Entre nós, como na Europa em geral, tal não significou que estes aumentassem. Bem pelo contrário. O que criou foi condições para que a saúde da mulher fosse acautelada. Deixemo-nos de pruridos que apenas escondem outras questões que muitos não têm coragem para assumir. A mulher tem direito de dispor do seu corpo sem restrições. É preferível abortar do que ter crianças em famílias disfuncionais, onde elas não são desejadas e apenas virão ao mundo para sofrer e fazer sofrer. Tudo o resto não passa dum chorrilho de interesses inconfessáveis. Muito mal andaram os EUA e veremos que fatura terão que pagar no futuro. Tudo isto terá consequências, não tenho dúvida alguma, só falta saber como afetará as gerações seguintes. E a América já tem um historial que nos deixa colocar questões destas sem reservas e com muita preocupação.

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