Turma Formadores Certform 66

Sunday, February 26, 2023

Coisas da dura vida

Andava eu preocupada com os meus problemazinhos de merda, parei no supermercado para comprar umas coisas. Estava na fila para para pagar quando oiço uma rapariga, na caixa em frente, com uma pizza na mão, a pedir qualquer coisa. A funcionária não percebeu e ela repetiu. "Será que dá para comprar a pizza agora e voltar mais logo para a aquecer aqui?". Uma das funcionárias disse que não (há um espaço onde é possível aquecer a comida mas só a comprada no momento, ou seja, sem a pessoa sair do espaço) e a outra pergunta-lhe qualquer coisa que não entendi, e ela responde, com uma expressão meio desalentada, meio conformada: "sim, estou...mas é complicado". Com um meio sorriso, explicou a uma das funcionárias que estava a trabalhar (suponho como empregada doméstica) numa casa ali perto mas que o patrão não a deixava comer lá. Então a solução era, após o trabalho, comer no supermercado. Tudo isto se passou num Pingo Doce situado num simpático condomínio numa das zonas mais caras de Lisboa. Já tinha ouvido histórias de gente que nem sequer deixa quem lhe limpa a sanita usar a casa de banho mas nunca me tinha confrontado com um rosto. Imaginem o quão rasca é preciso ser para pagar a alguém para cuidar da casa, para limpar, para passar a ferro, e sabe-se lá o que mais, e ter a lata de dizer a essa pessoa: "olhe, não pode é comer aqui, tem de ir à rua". Não consigo imaginar o que é que se passa na cabeça de quem acha normal dizer isso a outro ser humano, tratando-o como se fosse um lixo . Quem é esta gente? Que vidinhas tristes é que têm? Cada vez mais agradeço pela educação que tive e por sempre ter tido bons exemplos de como tratar os outros com dignidade. Acho que posso dizer que tive uma infância privilegiada. Sempre houve (e ainda há) uma regra tácita e básica, além do respeito e da educação: se as pessoas estão a trabalhar para nós mais do que 4 horas (a não ser que não queiram) comem uma refeição. E ver aquela cena no supermercado trouxe-me à memória as tachadas de arroz de feijão que a minha mãe fazia quanto era altura de apanhar as batatas ou das vindimas. Para que toda a gente tivesse o que comer. Há gente que pode ter tudo mas como gente é muito poucochinho. 

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