A questão dos migrantes e não só
Muito se tem falado - e nem sempre pelas melhores razões - da onda migratória que se acolhe em Portugal. (Onde que afinal não é onda, em nada igual aquela que os portugueses fizeram nem França nos anos 60). A esses filhos do infortúnio são atribuídas todas as culpas do que fazem e do que não fazem. Parece que eles personificam o mal e só deles se pode esperar o pior. Como se entre nós não houvesse gente pior. Mas sempre é mais fácil apontar o dedo ao outro. Sempre é mais fácil ver o chisco no olho alheio a ignorar a trave que o nosso ostenta. E quando se é minoria ainda pior. Os meios de comunicação têm muito a ver na forma como alimentam este clima. Na passada semana houve uma rixa em Lisboa e todos os telejornais abriram com essa notícia apenas porque se tratavam de gente doutras paragens. (E apenas escoriações se verificaram nada mais do que isso!) Se fosse algum dos nossos nem se dariam ao trabalho de publicar o que quer que fosse. Parece que tudo o que acontece de mal tem origem exógena ao nosso país, o que não é verdade. Só que qualquer facto é ampliado duma forma orquestrada para dar esta ideia. A rusga policial há uns dias no Martim Moniz não precisa disso para ser justificada. Apenas foi inqualificável e colocou o país sob os holofotes internacionais pelas piores razões. Claro que não nego a existência de pessoas mal intencionadas que se acolhem entre os outros que buscam um lugar para fugir da fome, da guerra ou das deportações. Mas entre nós, como já referi, há bem pior e até ficamos com a ideia que não depois do que vemos e ouvimos por aí. A extrema direita desde há muito que elegeu esta gente como o seu alvo principal e os 'media' estão a servir de cobertura, intencionalmente ou não. Não nos podemos esquecer que somos um país de emigrante, que também foram alvo destas atitudes noutros países, e nessa altura ficávamos indignados com isso. Dou-vos o caso de França, onde muitos portugueses viviam aquartelados nos tristemente famosos 'bidonville' que eu conheci nos anos 60. Vi compatriotas nossos a ser tratados como lixo apenas porque eram portugueses. Hoje até existem vereadores portugueses na Câmara de Paris - e não só - mas nem sempre foi assim. Nunca fui emigrante, mas vi muito por esse mundo fora que felizmente tive a oportunidade e o privilégio de percorrer. Como país de emigrantes que somos, deveríamos ter mais cuidado quando falamos dos outros. Chamo a atenção para um relatório publicado ontem pela Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre esta temática. Leiam-no com atenção e reflitam. Nunca é tarde para nos tornarmos ser humanos de parte inteira mais solidários.
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