Turma Formadores Certform 66

Sunday, November 16, 2014

Encontros enriquecedores

Hoje, domingo, cruzei-me com Frei Fernando Ventura. Para os que não conhecem, Frei Ventura é um iminente frade Capuchinho do Porto, mais conhecido certamente, por ser comentador habitual na televisão através da SIC Notícias. Frei Fernando Ventura é um andarilho, um verdadeiro caminheiro deste mundo que é o nosso. Homem de grande cultura e extrema lucidez, é sempre um privilégio ter-se uma conversa com ele. Como sempre, Frei Ventura é um homem da Igreja atento à sociedade em que vive e, sobretudo, aos mais marginalizados e excluídos. Desafiava-me com esta questão: "Será que uma pulga pode fazer para um comboio?" E acrescentava a resposta: "Uma só não, quando muito pode incomodar o maquinista, mas muitas a atuarem em conjunto sim, porque o maquinista ao ter que tanto se coçar não o poderiam conduzir". Queria Frei Ventura dizer que se permanecermos sentado a um canto da vida, não conseguiremos nada. E se ficarmos à espera que um salvador apareça ainda pior. As coisas só mudam quando todas as formigas - que somos nós todos - formos capazes de nos unir para que tal aconteça. Sem divisões nem brechas, apenas como uma força única poderemos fazer "parar o comboio". Este comboio da vida que nos esmaga, nos empobrece, nos reduz à miséria, que destrói famílias, (casa onde não há pão...), sem que para tal tenhamos encontrado a salvação. Enquanto Frei Ventura filosofava, lembrei-me dum grupo de jovens de Águas Santas na Maia - terra onde já vivi - que a única coisa que sabem fazer é dançar. Mas fazem-no bem. E porque eles dançam e dançam bem, há famílias em Timor-Leste que têm material para ir à escola, há jovens em Moçambique que têm uma refeição quente, há gente do Bairro Social do Seixo - nos arredores do Porto - que têm uma vida mais digna. Porque aquele grupo de jovens empenhou-se em fazer bem aquilo que sabe, que é dançar. Sozinhos sentados na margem da vida não faremos a diferença, ninguém notará sequer a nossa presença, mas quando nos unimos - tal como aquele grupo de pulgas de que Frei Ventura falava - as coisas acontecem e com prazer. Dão frutos a quem beneficia, dão alma a quem o faz. Lembrei-me também, daquele jovem de 12 anos que escreve no Jornal do Seixo, que pedia um espaço para as crianças e os jovens brincarem. Ele sozinho não o irá conseguir seguramente. Mas se outros se lhe juntarem, irmanados na mesma causa, estou segura que as coisas acontecerão. Grande lição esta de Frei Fernando Ventura. Parecerá vã filosofia mas não o é. Frei Ventura é um homem assintoso, interpelante, que faz a diferença. É um motor para que as coisas aconteçam, Quem o conhece sabe que é assim. Obrigado Frei Ventura pelas suas palavras, pelas suas interpelações, pelas suas provocações, que agitam águas de imobilismo e indiferença. Saibamos ler a mensagem porque ela é muito importante. Há encontros assim, enriquecedores. Este foi um deles.

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