Tempos de podridão
Depois do que temos vindo a assistir uma pergunta nos baila na mente. Será que este governo ainda tem condições para continuar? Será que o Presidente da República não vê aquilo que todos os portugueses vêm? Tudo isto a propósito da demissão de ontem de Miguel Macedo. Aliás, uma demissão muita digna dum dos pesos pesados do governo. Depois do mais mediático episódio de corrupção que atinge altas figuras do Estado. É pena que outros não lhe sigam o exemplo, mas estas posturas não são comuns a toda a gente. Mas analisemos. Depois do "erro de avaliação" de Vítor Gaspar que o levou a demitir-se; depois de Álvaro Santos Pereira achar que afinal não tinha muito jeito para político embora o tenha tentado mesmo com "pastéis de nata"; depois do rocambolesco Relvas que virou anedota nacional; já para não falar dos vários secretários de Estado que foram saindo por esta ou aquela razão, que mais resta? Temos um Portas que antes dos Vistos Gold teve uma polémica intervenção no caso dos submarinos, coisa aliás, que nunca foi esclarecida cabalmente; temos um ministro da Educação que conseguiu o mais anedótico arranque do ano letivo; já para não falar numa ministra da Justiça, que querendo parecer durona, acabou num triste episódio de acusar dois elementos de sabotarem o Citius, logo desmentida pelo Ministério Público, que veio assim mostrar a incapacidade da dita senhora. É que isto de ser gestor de topo da coisa pública não é para todos, mesmo que se esteja ligado aos mais importantes escritórios de advogados do país. E até, se quisermos ser um pouco mais causticos, temos o marido da ministra das Finanças que pretende mandar para o hospital quem critica a sua mulher, numa atitude de Rambo da Mouraria, à boa maneira portuguesa que, da chapada ao insulto, do murro ao pontapé, lá vai levando a vidinha. Depois de tudo isto, que mais resta? Um governo podre, apodrecido à muito pelas desavenças entre os partidos que o compõem, podre pelas políticas que tem seguido, descredibilizado por ter apresentado um programa no início da governação que logo foi arrumado apenas tendo servido para as eleições, enfim, este governo é um corpo cada vez mais estranho ao país e aos portugueses. Todos já sabemos disso à muito, embora o Presidente da República veja algo que mais ninguém vê para o manter em funções. Não sabemos bem para onde anda a olhar o chefe da Nação, mas seguramente, que deve ser para outro lado qualquer. Esta será a 11ª alteração no governo desde a sua posse, o que diz bem da sua instabilidade interna. Para além dos remendos que se vão cozendo no segredo dos gabinetes, para que a coligação se mantenha presa por arames. Nestes tempos propícios à corrupção, onde os bancos tidos por mais respeitáveis se vêm a braços com a mais sórdida manigância, quando as estruturas mais elevadas do Estado se vêm envolvidas em casos inacreditáveis, quando pairam sobre alguns políticos sombras nunca esclarecidas, tudo isto é um verdadeiro caldeirão onde se forjam a mais dúbias asserções. Numa sociedade onde a opacidade existe não pode ser uma sociedade justa, e quando essa mesma sociedade está a sujeita à mais férrea austeridade, os sintomas de assimetria serão sempre um lugar onde germinará a revolta face à injustiça. Daí o simbolismo da demissão do agora ex-ministro da Administração Interna. O exemplo de Miguel Macedo devia ser seguido por outros, que estão em situação tão, ou mais fragilizada do que ele. Mas a dignidade não é vista da mesma maneira por cada um de nós. E é pena. Porque de dignidade e seriedade anda bem necessitada a coisa pública.
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