Turma Formadores Certform 66

Monday, January 12, 2015

É tempo de repensar a Europa

Todos temos sentido um tumulto de sentimentos nestes últimos dias, depois do bárbaro atentado ao Charlie Hebdo. Já muito se disse sobre o tema e aqui não quero voltar para me repetir. Mas há algo que me intriga que é o de saber o que leva jovens na casa dos 30 anos a terem esse fascínio pela morte que os leva a tomar essas atitudes. Gente jovem a viver num país que lhes dá oportunidades que os seus pais nunca tiveram nas suas terras de origem, eles que não as conhecem, mas que têm uma espécie de fixação pelo abismo. E chegados aqui, seria bom pensar nas condições que a Europa dá a esta gente que a demanda em busca de melhor vida. Tê-la-ão com certeza, mas a que preço? Depois da notícia da maneira como a polícia teve algemado um negro do Mali que afinal tinha salvo a vida de muitos judeus no mercado que foi atacado depois, apenas por que desconfiou dele fruto da cor da pele e por ser muçulmano, - como se todos os muçulmanos fossem potenciais terroristas -, veio-me à memória um incidente que vivenciei há alguns anos em Paris. Dirigia-me para a cidade luz e numa das portagens da autoestrada fiquei parado na fila para o habitual pagamento. Ao meu lado um outro veículo tentou ir para outra fila mais vazia e chocou com um carro em que circulava um casal de magrebinos com os seus filhos. Poucos minutos depois, aparecem algumas motos da polícia vindas do nada e sem tentar saber o porquê do acidente e quem o motivou, de imediato começou a trata mal esses magrebinos que, afinal, tinham sido as vítimas. De imediato se gerou uma onda de solidariedade em torno deles que levou a "gendarmerie" a recuar. Mas a atitude aí estava e ficou registada. Talvez fruto dessa discriminação, - ainda hoje os magrebinos são apodados de "pieds noirs" pelos franceses - não deixa de ser curioso que é nas prisões que esta gente se radicaliza. Gente que é condenada por crimes de delito comum e que em breve se tornam os mais perigosos "jihadistas". Porquê? Essa é uma interrogação que temos que fazer. Porque a Europa está avassalada com uma onda de emigração ilegal sem precedentes. Gente que vem em busca do "el dorado" europeu que os leve a ter melhores condições de vida, mas outros poderão vir com outras intenções. Contudo, esse terrorismo mais radical é gerado no seio das sociedades que lhes dão abrigo, a quem eles já pertencem por nascimento, mas que nunca foi capaz de os integrar realmente. (Daí que quando se fala em fechar o espaço Schengen isso não passe de populismo barato). O problema que a França tem com os magrebinos é idêntico àquele que os ingleses têm com os indianos e os paquistaneses. Contudo, são já a segunda geração que revela esse fascínio apocalítico que os leva a estes atos. Mas que fazem as nações europeias para os integrar de facto? Que condições lhes dão? Quem vive marginalizado em bairros periféricos e não consegue atingir as condições de vida que vê na restante população, sentindo-se permanentemente colocados à margem, são terreno fértil para quem os usa deste modo. Não sei se foi o caso destes três jovens abatidos pela polícia, mas penso que, depois de toda a poeira assentar, será bom que se faça uma análise do que se passou e porque se passou. Afinal eles eram franceses, nascidos e educados nos padrões de França e da Europa. E a religião não pode justificar tudo. (Afinal até mataram um polícia que também era muçulmano). Talvez nem seja o fundamental, embora seja o "modus operandi" de quem recruta e acena com paraísos imaginários. 

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