Turma Formadores Certform 66

Friday, February 20, 2015

Um rebate de consciência

Ontem fomos surpreendidos pelas declarações de Jean-Claude Juncker sobre a austeridade. E isso foi surpreendente porque Juncker é o presidente da Comissão Europeia (CE), depois de ter sido o líder do Eurogrupo que ajudou a aplicar a mesma austeridade. Mas apesar disso, ele foi capaz de fazer a sua autocrítica. Foi capaz de perceber que aquilo que se passou essencialmente em Portugal e na Grécia foi um desastre. Que nada resultou para além do empobrecimento das gentes e destruição dos países. Acusou a "troika" de não ser democrática, e bem. Acusa este grupo de funcionários de dialogarem com ministros e governos, impondo regras absurdas sem legitimidade democrática para o fazer. Eles substituíram-se à política quando está já nada tinha a dizer. E foi ver a reação de alguns governos, - desde logo o nosso -, que aponta o dedo a Juncker só faltando acusá-lo de perigoso anarquista. O mesmo Juncker que o governo português achava que era o melhor dos melhores para a CE. Até é da mesma família política! (Mas isso foi há algum tempo atrás). Agora que o encanto terminou o incómodo é visível. Todos sabemos que Juncker tem razão. Exceto os governantes que achavam que se devia ir para além do que determinava a "troika". Mas o tempo desses governantes já é passado. Aquilo que defendem já ficou para trás. A página da História começou a ser virada inexoravelmente. (Basta ver como o ministro alemão das finanças quis ter a seu lado a sua homóloga portuguesa, - que se prestou a esse triste papel -, para defender o indefensável). As ondas de choque aí estão. Tudo isto, queiramos ou não, pela mão das eleições gregas. Que mudaram o rumo. Que mudaram a maneira de olhar para a História. Sem as eleições gregas ninguém estaria a discutir isto. E esse incómodo vem dum povo que, apesar das consequências, quer erguer a cabeça, reconquistar a sua dignidade como povo. A Grécia que foi o berço da democracia ergueu-se para mostrar que ainda é o baluarte dessa mesma democracia contra a tirania da União Europeia (UE) que devia ser uma união e não uma manta de retalhos comandada pela Alemanha. A UE que devia ser mãe e não madrasta. A UE que devia ser solidária e não persecutória. Juncker foi o arauto de muitos que os tempos recentes esmagou, que conduziu à miséria e à descrença povos inteiros. Juncker foi o sinal de que a História mudou, que tem que ser repensada a maneira como até agora correu.  Antes que seja tarde. E já começa a ser tarde. Daí o rebate de consciência.

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