41 anos depois do 25 de Abril
Quarenta e um anos passaram desde o 25 de Abril de 1974. (E quarenta sobre as primeiras eleições livres). Muito tempo e parece que foi ontem, quanta ilusão, quanta alegria, quanta ingenuidade. Era a época do romantismo revolucionário, a era dos impossíveis ali à mão, a era do sonho que se desenhava como realidade. Quarenta e um anos passaram e afinal, embora tenhamos percorrido muito, também muito regredimos, sobretudo nestes últimos dias de chumbo que são os nossos, atuais, e que parecem não ter fim. Quarenta e um anos e a desilusão aí está, os pobres cada vez mais pobres e em maior número, os ricos cada vez mais ricos. O fosso entre os mais ricos e os mais pobres vai-se alargando num perigoso desfiladeiro cujas consequências ainda não vislumbramos. A classe média, o grande pilar da democracia, praticamente já não existe. Olho para o meu país e parece que vejo aquele outro de quando era menino e moço, aquele país pobre, andrajoso, sem esperança, sem futuro, sem amanhã. A grande bandeira saída do 25 de Abril de 1974, o Serviço Nacional de Saúde, que tanto ajudou as populações mais carenciadas e mais isoladas, hoje está a desmembrar-se, desfigurado e sem capacidade de resposta. Uma caricatura face àquele outro que foi delineado pelo seu fundador. O ensino, embora mais democratizado do que então, está desajustado, sem motivação de docentes e discentes, onde se estuda cada vez mais para fazer exames. Exames cada vez mais fáceis sem exigência. Apenas se tem como objetivo passar esses exames e não adquirir conhecimentos para o futuro. A cultura reduzida aos serviços mínimos, apenas se mantendo com a ajuda de alguns mecenas. Enfim, um país descaracterizado, esfomeado mas não só de alimento, carente e não só de mimos. Quarenta e um anos depois, o sonho de alguns jovens capitães parece ter sido adiado, interrompido, para não dizer traído. Já nem a Associação 25 de Abril, onde se acantonam ainda alguns dos que restam dessa senda desses jovens militares, se associa às comemorações oficiais. Preferem fazê-lo na rua junta das populações que os inspiraram, face ao cada vez mais cinzento simbolismo oficial digno daquilo que eram as comemorações no final do Estado Novo. Muitos sonhos ficaram pelo caminho. Muita inocência se perdeu. Muita ilusão virou descrença. Mas para além de tudo, valeu a pena. Porque a Liberdade não tem preço, apenas não tendo valor para quem sempre viveu com ela. Valeu a pena para mostrar que um Povo quando unido e determinado, pode levantar-se e fazer a diferença. E quantos exemplos destes temos na nossa grande História. Valeu a pena para que neste dia, eu e tantos outros, possamos alinhar estas frases, sem temor, sem ter que olhar de soslaio sobre o ombro. Afinal como diz Pessoa, "tudo vale a pena / quando a alma não é pequena". E o 25 de Abril valeu a pena. apesar de tudo. Valeu, valeu!
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