Lembrando Maria de Magdala (ou Madalena)
Nesta Sexta-feira Santa que, segundo a tradição, Jesus Cristo foi crucificado, levanta algumas questões interessantes e polémicas do ponto de vista histórico. Como sabemos, Cristo pregado na cruz - vil instrumento de tortura e morte que os Romanos utilizavam - veio a dar azo a uma das maiores religiões do mundo. Mas também coloca questões que merecem a nossa atenção. Apesar de Cristo na sua curta vida ter arregimentado muitos seguidores, elegeu um grupo mais restrito deles que hoje conhecemos como os Apóstolos. O certo é que, na derradeira hora, todos fugiram com medo, apenas ficando junto da cruz a seguir o seu tormento e os momentos finais, Maria sua mãe e a outra Maria, a natural de Magdala, que entre nós, passou a assumir a designação de Maria Madalena. Esta era, segundo alguns, uma abastada seguidora de Cristo, uma apóstola que ajudava a sua causa monetariamente, e não a tão propalada e vilipendiada prostituta arrependida. Esta ideia só iria surgir muito mais tarde, fruto de alguns estudiosos da causa cristã, que assim arrumavam duas questões centrais na liturgia de Cristo. A primeira, era colocar a mulher num segundo plano, inferior, afastando-a das grandes decisões da Igreja emergente - situação que ainda hoje lamentavelmente se mantém - e, a outra, era a questão do pretenso celibato de Cristo, - que também hoje continua a verificar-se com o celibato dos padres, e que tem sido fruto de muita controvérsia. Mas esta é apenas uma visão da História. Nos Evangelhos Apócrifos, faz-se referência a esta Maria de Magdala como sendo uma mulher virtuosa e rica, - daí o financiamento da causa de Jesus -, mas também, uma fiel seguidora e até esposa, ("aquela que Ele mais amava"), conforme se pode ler. Segundo esses mesmos textos, Maria de Magdala (ou Madalena) viria a ser a esposa de Jesus e dessa relação teria nascido um filho. Ainda segundo a tradição apócrifa, depois da crucificação, teria havido um período de fortes perseguições aos cristãos, e ela teria fugido para o sul de França - mais propriamente, para a região do Languedoc-Roussillon (mais precisamente no sudeste de França) -, e teria sido ajudada nessa fuga por um judeu proeminente na época, José de Arimateia, o mesmo que teria reclamado a Pilatos o corpo de Jesus para o sepultar num sepúlcro por ele oferecido. O mais curioso é que ainda hoje, quem passar pelo sul da França na região do Languedoc-Roussillon, ainda pode ouvir algumas destas estórias e tradições que foram passadas à mais de dois mil anos. (Embora o povo dessa região seja um povo reservado e não se abra muito com desconhecidos, fruto do muito que sofreu ao longo da História que, segundo alguns, se prende ainda com movimentos ocultos que têm reminiscências nesta época, o certo é que hoje podemos ainda ver o famoso culto a Maria Madalena, feito duma forma discreta, para não dizer clandestina). Aconselho a que se leia o "Evangelho de Maria Madalena" e alguns apócrifos que podem ajudar na compreensão desta questão. Mas o que mais me importa aqui, é fazer uma homenagem a Maria Madalena, vilipendiada ao longo do tempo, mas que, queiramos ou não, foi uma das que esteve mais próxima de Cristo na vida, na sua horrível morte e na sua Ressurreição, porque também fazia parte do grupo de mulheres que iam ao sepúlcro passados três dias, - como era costume na cultura judaica -, e verificaram que o corpo de Cristo lá não estava. E porque é Sexta-Feira Santa, gostaria de partilhar uma fantástica composição sobre esta mulher tão misteriosa - será? - da cristandade, chama-se "Kyrie for the Magdalene" e é da autoria de Hans Zimmer. Um momento grandioso do ponto de vista musical mas, sobretudo, uma homenagem digna, assim o creio, para com "aquela que Jesus mais amou", e que podem escutar aqui https://www.youtube.com/watch?v=2xNdeDFkd7c . Um momento de grande introspeção. A profunda dor e santidade glorificada na jornada para a Páscoa através desse veículo maravilhoso que é a música. Boa Páscoa a todos.
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