Turma Formadores Certform 66

Monday, June 08, 2015

A Ordem do Hospital

A história dos Hospitalários em Portugal é pouco conhecida, já que em 1662 o exército espanhol, comandado por D. João de Áustria, destruiu a vila do Crato e os arquivos da Ordem. Cerca de 1120 a rainha D. Teresa doou uma propriedade entre Oliveira e Bobadela à Ordem dos Hospitalários, uma etimologia de Oliveira do Hospital. Existe correspondência de 1122 entre o bispo Hugo do Porto e o Mosteiro de Leça. Entre 1122 e 1128 D. Teresa cede à Ordem a sua primeira casa capitular, o Mosteiro de Leça do Bailio. A outorga, em 1140, de uma carta de couto e privilégios por D. Afonso Henriques, 12o Grão-Mestre da Ordem atesta essa doação anterior e a importância dada à Ordem. O seu primeiro Prior terá sido um irmão do Rei. O Mosteiro de Leça do Bailio é considerado um dos melhores exemplares arquitectónicos existentes, no país, de transição do estilo românico para o gótico, com origem anterior ao séc. X. Foi neste Mosteiro que o rei D. Fernando casou com D. Leonor de Teles. Em 1160 é conquistada a região do Ocrato ou Ucrate aos mouros por D. Afonso Henriques. D Sancho I toma Silves em 1189, com a hoste do alferes-mor D. Mendo de Sousa, o Sousão, e os monges do Templo, do Hospital e de Calatrava. Em 1194,a 13 de Junho, ocorre, por parte de D. Sancho I e D. Dulce, a doação "para sempre" das "terras de Guidintesta", no actual concelho de Mação, à Ordem na pessoa do Prior do Hospital D. Afonso Pelágio, ou Afonso Paes, e que incluiam Amieira, Belver, Cardigos (antes propriedade dos Templários), Carvoeiro, Sertã (que tem uma história bastante rica e complexa), Envendos (que fundaram, e lhes foi tomada em 1522 por D. João III a pedido do Papa), Oleiros, Gáfete, Tolosa, talvez também Pedrogão Pequeno e Proença-a-Nova, que também foram propriedade da Ordem. A injunção real era que nelas fosse construido um castelo, que viria a ser, entre outros, Belver, cujo nome foi dado pelo próprio Rei. Em 1210 o Castelo de Belver já estariam terminado ou, pelo menos, bastante adiantado, pois já se encontrava activo, e assim continuou pelo menos até 1580, em que alinhou, necessariamente, ao lado do Prior do Crato contra Filipe II. Note-se que a Ordem, em Portugal, foi sempre dependente do Grão-Comendador de Castela. O Bispo D. Sueiro toma Alcácer do Sal em 1217 com uma frota cruzada e 500 freires Templários, Espatários e Hospitalários, além das lanças dos ricos homens de Portugal e Leão. D. Sancho II, à frente da sua hoste e dos Hospitalários, atravessa o Guadiana em 1232, em marcha sobre Moura e Serpa, que se rendem. Na seguinte expedição, a quarta no Alentejo, o castelo de Mértola é tomado aos Mouros e doado aos Hospitalários. Em agradecimento pela sua acção na Reconquista, o Rei D. Sancho II, em 1232, doou à Ordem a vasta região das Terras de Ucrate, o Crato, sendo Prior Mem, ou Mendo, Gonçalves, que iniciou a construção do castelo. Durante a reconquista do Algarve, a 9 de Março de 1249 os Mouros abandonam Faro, ataque em que participaram as Ordens de Santiago e Calatrava. A 29 de Março, o Comendador Gonçalo Magro fazia capitular Albufeira. Porches e outros lugares fortes a oeste de Faro renderam-se no dia seguinte. Entretanto, os Hospitalários, dos seus castelos de Moura, Serpa e Mértola, saem, aumentando as conquistas entre o Guadiana e o Odiel, metendo adentro do condado de Niebla, até Aracena e Aroche. Frente à situação, a forte praça de Silves rende-se por fim sem combate. Com a ocupação desses últimos castelos consumava-se a conquista militar do Algarve. Queijada, nas margens de um afluente do Lima e de orago S. João Baptista, foi uma das freguesias do julgado medieval de Penela, com a de Boalhosa, que em vários aspectos lhe andou ligada. Já em 1258 era couto da Ordem do Hospital, por padrões, e uma abadia particular, de que o rei não era padroeiro, talvez por ter origem em igreja própria ou, então, porque pertença da Sé de Braga. Há notícia de que os capítulos Gerais da Ordem do Hospital dos anos 1260 e 1261 se terão realizado no Convento do Mosteiro (povoação a 7 Km de Oleiros). Das Inquirições de 1290, sabe-se que esta freguesia (Queijada) era um dos lugares da Ordem do Hospital "de que el-rei há de haver colheita uma vez no ano, quando aí for, ou o infante" - o que recebia "em Marrancos, e em Queisada, e em Poiares de Canelas", nos quais e em Sertã "hão de dar quanto cumprir a el-rei" de colheita. Com a vizinha freguesia de Boalhosa, constituía de facto a de Queijada um único couto, da ordem dos Hospitalários, que nenhum outro foro davam à Coroa, a não ser um ovo por mês ao casteleiro (de Penela). O couto de monte dos Francos entrou posteriormente na comenda de Chavão, da já citada Ordem do Hospital. No Crato, no Séc. XIII, foi também construída uma Igreja Matriz. Vera Cruz de Marmelar, 15 km a sul de Portel, foi fundada nos finais do Séc. XIII por D. Afonso Pires Farinha, que participou na 7a. Cruzada a Jerusalém, de onde trouxe a relíquia guardada na capela esquerda. Foi construida sobre um mosteiro visigótico, de que restam as capelas colaterais da cabeceira. No tempo de D. Afonso IV, por volta de 1336 a 1341, sendo Prior da Ordem D. Álvaro Gonçalves Pereira, o prolífico pai do Condestável e mais 31 filhos de diversas mulheres, foi a sede transferida de Leça, ou de Belver, para o Crato, passando D. Álvaro e os seus sucessores a usar o titulo de Prior do Crato em vez de Prior do Hospital. Datado de 1341 existe um documento que prova a intenção de D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da Ordem, fundar uma capela no termo do Crato. Para instalação da ordem, mandou edificar no sitio da Flor da Rosa - arrabaldes do Crato - o mosteiro, que passou a ser, desde então, a casa-mãe daquela ordem em Portugal. Segundo a lenda, o Mosteiro da Flor da Rosa, nome de inspiração alquímico-templária, terá sido construído ali por virtude de manifesta vontade do Espírito Santo. Efectivamente, no seu regresso de Jerusalém, alguns peregrinos, acompanhados por cavaleiros da Ordem de Malta, transportavam no dorso de uma mula, uma relíquia sagrada trazida da Cidade Santa, destinada a uma igreja do norte de Portugal. Quando a caravana se deteve naquele lugar, junto a uma antiquíssima fonte-cisterna que ali existe, a mula que transportava a relíquia recusou-se a prosseguir caminho, nada a demovendo, pois no auge do incitamento que lhe faziam para prosseguir viagem, a mula caiu morta, o que foi compreendido como sinal da vontade divina. O complexo monumental do Mosteiro de Flor da Rosa foi começado a erguer no século XIV, e era, originalmente, uma igreja fortaleza conventual. Trata-se de uma arquitectura religiosa, civil e militar, gótica, manuelina, mudbjar, renascentista, contemporânea (a Pousada). O complexo é composto por três edificações distintas, que se interpenetraram ao longo do tempo: paço acastelado gótico, ampliado na centúria de quinhentos, que lhe conferiu o prospecto actual renascentista e mudejar; igreja-fortaleza gótica e manuelina, de nave única de grande altura e largo transepto e cabeceira pouco profunda; e dependências conventuais renascentistas e mudejares. Assim se estabeleceu aqui a capital do priorado, que possuía 23 comendas, com terras e termos e coutos. O rendimento anual do priorado, no século XIV, era de 45 contos de rubis, uma fortuna. Nas Terras de Guidintesta, Amieira do Tejo fica situada junto do Tejo, na meia ladeira de uma colina. A povoação está aglomerada em redor de um belo Castelo, bem conservado, de quatro torres ligadas por muralhas, excelente espécime da arquitectura militar trecentista, integrado na linha defensiva da margem sul do Tejo, mandado edificar em 1350 por D. Álvaro Gonçalves Pereira, que lá foi morrer. Junto ao rio, fica o local onde existiu a tão falada "Barca da Amieira" que fazia a ligação entre as duas margens, e que, desde que transportou a Raínha Santa (no seu enterro?) nunca mais sofreu nenhum acidente. A conclusão da Flor da Rosa e a fundação do Paço do Crato são, tradicionalmente, colocados em 1356. Datadas de 1358 e 1359, existem cartas de D. Pedro I, provando que se estavam a fazer "cauas & barbacas, em cada uma das Villas do Crato e da Amieira". O Condestável D. Nuno Ávares Pereira manda reedificar o castelo de Belver em 1390. Em 1512 D. Manuel concede novo Foral ao Crato. D. Manuel e D. Leonor, em 1518, e D. João III e D. Catarina, casam no castelo do Crato. A Ordem tinha fratrisas que envergavam o hábito mas viviam em casa, mas não freiras. Em 1519, Isabel Fernandes funda em Évora o primeiro convento. Em 1527 o Infante D. Luís, Prior, assume a administração dos bens da Ordem de Malta e decide fundar um colégio de teologia para trinta religiosos no Mosteiro do Crato, o que é atestado pelas ampliações manuelinas, mas que nunca chegou a funcionar. Também transfere o convento de Évora para Estremoz. D. António, Prior do Crato, foi 180 Rei de Portugal em circunstâncias difíceis e por cerca de mês e meio, em 1580, desde 19 de Junho de 1580, data da sua aclamação em Santarém, até à derrota de Alcântara, a 25 de Agosto seguinte. Filho do infante D. Luís e de Violante Gomes, plebeia, e sobrinho do Cardeal D. Henrique. É obrigado a suceder a seu pai no Priorado do Crato, mas na mesma altura decide romper com a carreira imposta. Já diácono e Prior, recusa a ordenação e passa ao século. Por esse motivo, o seu tio Cardeal D. Henrique manifestava-lhe declaradamente ódio, que o leva a exilar-se em Castela durante a menoridade de D. Sebastião. Com a subida ao trono deste, é Governador de Tânger. Em 1578, já desligado das funções religiosas, participa na Batalha de Alcácer Quibir, onde é feito prisioneiro e depois resgatado. Considera-se herdeiro na crise dinástica de 1578-80 e, modernamente, com legitimidade. Baseava a sua candidatura na situação de filho legitimado do infante D. Luís, segundo filho de D. Manuel, e por não haver descendentes directos de D. João III. Mas havia que provar o matrimónio secreto de seus pais. Em processo D. António obtém uma sentença favorável, mas a intervenção pessoal do cardeal-rei D. Henrique, culmina numa nova sentença, desfavorável. Com a morte do cardeal, as tropas filipinas entram em Portugal. Os partidários do Prior do Crato aclamam-no rei em Santarém; Lisboa e Setúbal recebem-no vibrantemente e quase todos os burgos do reino alinham a seu lado. Mas, não dispondo de exército organizado, nem de recursos, é derrotado na batalha de Alcântara pelo exército castelhano. Consegue fugir com dificuldade para o estrangeiro onde, nas cortes de França a de Inglaterra, procura obter auxílio para lutar contra Filipe II. Manteve luta armada contra Filipe II, nos Açores (1582-1583) e em Lisboa (1589). Vivendo miseravelmente em França, a expensas de Catarina de Médicis, resolve passar à corte de Isabel I pedindo novo auxilio. Os ingleses, como represália contra o ataque da Invencível Armada, resolvem enviar a Portugal uma esquadra, comandada por Drake. D. António desembarca em Peniche mas sofre novo desaire. Regressa a França e, depois de ter conseguido um novo auxílio de Henrique IV, morre em Paris de uma crise de uremia, sem realizar o projecto por que tanto lutou. Em 1615, o arquitecto Pedro Nunes Tinoco faz o levantamento arquitectónico dos "Paços da Frol da Rosa" e refere que estavam ruinosos e desabitados; As fortificações do Crato são reabilitadas em 1642, face às novas tecnologias de guerra (construção de plataformas para a instalação de artilharia), transformando-se o castelo em fortim abaluartado. A 29 de Outubro de 1662 dá-se a tomada do Crato pelo exército espanhol comandado por D. João d'Áustria e destruição das fortificações e do cartório do Priorado, com perda total da documentação. Em 1778 são confirmadas à Ordem, por alvará, todas as posses de bens de raiz, dadas as dificuldades que a Ordem atravessa. Estes eram muitos, sobretudo com muitos bens dispersos no Centro e Norte, mas nunca foram tantos como os dos Templários. Em 1789 os bens da Ordem de Malta transitam para a Casa do Infantado, que é extinta em 1834, bem como os conventos religiosos, sendo então o Infante D. Miguel o Grão Prior. Em 1798 Bonaparte toma Malta. A 17 de Janeiro de 1897 desaba a cabeceira da Igreja do Mosteiro da Flor da Rosa. Em 1899 forma-se a Associação de Cavaleiros Portugueses da Ordem Militar e Soberana de Malta.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home