A Europa que humilha
Hoje, aparentemente, todos respiram de alívio. Mas será mesmo assim? Nestes últimos dias, depois de muito se ter falado do "Grexit" - inclusivé se falou de uma suspensão temporária da Grécia da zona euro por 5 anos! - lá se foi chegando a um acordo. Mas este não é um acordo qualquer. Temos 18 países que impuseram a um outro, uma das mais terríveis humilhações na história da União Europeia (UE). Tudo começou com a eleição do Syriza. As sirenes de alerta da UE tocaram a rebate. Depois Tsipras (e sobretudo, Varoufakis) tentaram mostrar que a Grécia, apesar das dificuldades, era o berço da Democracia, não daquela mais básica de colocar um voto numa urna de 4 em 4 anos, mas duma outra, mais direta, em que os cidadãos são chamados a dizer o que pretendem para o seu futuro. Esta Europa, adepta das democracias formais, não poderia acatar tal afronta. O Banco Central Europeu (BCE) fecha a torneira, o povo geme mas resiste. Depois, deixa-se passar mais algum tempo para que a agonia seja completa, aí o povo já se começa a interrogar e a dividir, a seguir, vem a imposição. FMI dentro do esquema, medidas mais duras das que estavam desenhadas na semana anterior, depois de muita humilhação de Tsipras e do seu povo. (Matteo Renzi o primeiro-ministro italiano foi o primeiro a denunciá-lo em público. Martin Schutz, o presidente do parlamento europeu disse o mesmo. O desconforto em algumas pessoas era evidente). As velhas alianças nazis, nem sequer apareceram disfarçadas. Foi ver o ministro das finanças finlandês ao lado do ministro das finanças alemão, parecendo que o primeiro era uma espécie mensageiro do segundo, dizendo o que este não podia dizer em público. (A velha aliança duma Finlândia ocupada com os nazis de Hitler. A história a repetir-se duma outra forma, com as mesmas consequências). A Grécia vergada à necessidade do mais básico, os senhores duma Europa o mais anti-solidária possível, a humilhar, a ofender um povo que idealizou a democracia, que serve a esta gente que hoje ocupa a Europa. Até o primeiro-ministro português se assume como o mentor duma solução para desatar o nó! O ridículo a que uma pessoa chega! Como bem diz Rui Moreira: "Devíamos falar menos sobre a Grécia porque também vivemos na rua dos pobres". No fundo, quiseram dar um sinal aos outros países onde existe grande desconforto com esta Europa. Desde logo, a Espanha com o fenómeno do "Podemos". Quiseram dizer que não permitem tergirvações, apenas a corrente ultraliberal dominante é que conta. Afinal, convidam os seus membros a viverem numa certa forma de democracia condicionada. Não a verdadeira, aquela em que acreditamos. Mas de tudo isto, fica a sensação amarga duma Europa que não foi capaz ainda de se federalizar, onde os nacionalismos vão falando mais alto, onde a humilhação duma nação, a chacota de um povo, são consideradas coisas menores. Esta não é a Europa que defendo. Esta não é a Europa dos seus fundadores. Esta não é a Europa dos estadistas. Embora sendo europeísta e federalista por convicção, esta não é a minha Europa. Esta não é a Europa em que acredito. Esta não é a verdadeira Europa.
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