Requiem pela Europa unida
Temos assistido a atitudes que em nada dignificam a União Europeia (UE). Uma UE que impõe à Grécia um brutal plano de austeridade, apenas e só, para tentar derrubar o governo do Syriza. Vemos o primeiro-ministro desse país, a dizer que não acredita no plano traçado e a pedir a sua aprovação no parlamento. Constatamos que se pede à Grécia para vender património para realizar 50 mil milhões de euros, coisa que não é exequível. (Portugal que vendeu meio país, realizou pouco mais de 10 mil milhões de euros!) Um Fundo Monetário Internacional (FMI) - instituição norte-americana - que acha que, afinal, se deve - agora, e só agora - reestruturar a dívida, caso contrário, não participa no fundo. Vemos uma Hungria de tendência fascista a construir um muro para impedir emigrantes de entrarem no seu território. Assistimos a uma Bulgária a construir outro pelas mesmas razões. A Itália que apela ao problema da emigração clandestina, e que ameaça com um plano B - que ainda não foi revelado - caso a UE não faça nada. Toda esta conflitualidade diz bem do desnorte que hoje assola a Europa. Toda esta confusão, vai minando toda a estrutura europeia e põe a nú a sua fragilidade. Estou convicto que muitos dos ministros que se sentam em volta da mesa para definir o futuro da Europa, já não acreditam no euro, quiçá até, já nem acreditam na união. A Europa que se abriu como espaço de paz e tolerância, agora constrói muros, transforma-se em fortaleza. Vemos os responsáveis pelos países a divulgarem via twitter as informações para fora da sala de reuniões. Enfim, isto mostra bem que esta Europa está a ser regida por um grupo arrapazado, sem sentido de Estado, como se estivessem a participar em algo em que já não acreditam. Por tudo isto, que constatamos diariamente, penso que é fácil verificar que estamos a caminho da derrocada. O fim da linha está já aí, e parece que ninguém vê, - ou finge que não vê -, e no entretanto, tudo se desenrola como se nada se passasse. Aquele que foi um projeto de paz, um projeto aglutinador de várias gerações - a minha incluída - está a transformar-se num espaço vazio de ideias, já sem conteúdo, onde a lei do mais forte - ou dos mais fortes, leia-se, ricos - é que determina o rumo. A situação da Grécia, por mais irónico que pareça, pode ser o que faltava para que essa derrocada se efetive. Numa Europa carente de estadistas, onde o radicalismo ultraliberal domina, não se pode esperar nada de efetivamente construtivo. Se ainda existissem dúvidas, a realidade aí está para a desmentir. O sonho europeu, a evolução para uma moeda única que aprofundasse mais a união dos países, parecia que era uma estrada alcatroada. Agora, com estes líderes, ela foi transformada num caminho de pedras. A Grécia poderá ser o início do fim, senão mesmo, o canto do cisne europeu. A Europa está gravemente doente. Este espaço de paz poderá vir a transformar-se num território de conflitualidade como foi no passado, e a que a UE pretendeu pôr fim. O sorriso hipócrita, amarelo, dos responsáveis europeus, com abraços à mistura, já não escondem a fragilidade do modelo e a incapacidade de traçar novos rumos. Afinal, é o requiem pela Europa que aí está.
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