"Tempestade de Poemas" - A vida num só dia
Chegou-me ontem às mãos o livro "Tempestade de Poemas" da autoria de Liliana Silva. Li-o de um trago, porque este é um livro que nos deixa agarrados do princípio ao fim. Sobretudo para quem como eu, conhece a Liliana desde que nasceu. E chegado aqui quero fazer a minha declaração de interesses. É que conhecendo a Liliana desde que veio ao mundo, não será fácil ter o distanciamento necessário para analisar a sua obra. Contudo, tentarei ser o mais imparcial possível. Como já por diversas vezes afirmei, a Liliana tem uma técnica de escrita muito boa. Conheço alguns dos seus textos que consolidam esta minha afirmação. Mas quanto à difícil arte da poesia, as coisas são bem diferentes. Daí a expectativa sobre o livro. Daí o literalmente devorá-lo dum trago. Porque era necessário não deixar perder o sentimento que dele emana logo desde o início. E para quem conhece o percurso da Liliana é ainda mais avassalador. É um verdadeiro livro autobiográfico, um daqueles livros que é um retrato fiel da sua autora. Com os desalentos da ainda sua tão curta vida - tem apenas 18 anos de idade - mas também com a ilusão de quem tem por limite o mundo e acalenta o sonho de o deter nos seus braços. A parte final do livro dá bem a ideia de como a vida em redor (mesmo que não diretamente a nossa) nos afeta, quando as opções nos levam a escolher de que lado da barricada devemos estar. "De mim e do pai / Ninguém te separa." escreve sobre um futuro filho. E isso não é fácil, só pensará o contrário quem não teve que fazer tamanha escolha. Daí que quando ia progredindo na leitura, ia assistindo ao desfilar de alguns episódios da vida da Liliana. E isso marcou-me muito a leitura. Este livro é um primeiro livro, com todas as inseguranças de quem começa, mas também, com a certeza da continuidade. A Liliana é, como já o afirmei por diversas vezes, uma espécie de diamante em bruto que começou a ser delapidado. À medida que for sendo mais e mais trabalhada, a Liliana deixará brilhar intensamente esse diamante que tem dentro de si. E estou certo que assim será. A Liliana sabe que pode contar sempre comigo para a ajudar a percorrer o trilho. Uma coisa já ela mostrou, que quer tomar o seu destino nas suas mãos. E agora, perdoem-me que fale diretamente para ela. Já que estás a trilhar o caminho nem sempre fácil das letras, e pretendes ocupar o difícil palco da poesia, deixa que te cite um poeta de que gosto muito, José Régio, no seu famoso "Cântico Negro", que no seu final diz: "(...) Não sei para onde vou / Não sei por onde vou / Mas sei que não vou por aí". Tu já fizeste a tua escolha. Mostraste que querias um caminho diferente do que aquele que seria mais natural, tiveste a coragem de assumir a tua escolha, agora só te resta percorrê-lo. Estás a viver uma euforia sentimental que te vai ajudar na caminhada. Nunca esmoreças. As rosas também têm espinhos, e a dor dos espinhos, por mais intensa que seja, é sempre abafada pelo seu aroma. À tempestade, uma esperançosa bonança aparece. À noite inexoravelmente se segue o dia. As dificuldades são também um aprendizado da vida. Obriga-nos a crescer, assim, o entendamos nós. E quando fizeres as "Pausas do Café", mesmo que penses "Nos altos e baixos que, / Na minha vida / Têm relevo" lembra-te sempre que para "As ultrapassar nunca se desiste". São palavras tuas. À que assumi-las. Só para terminar, queria lembrar-te uma conversa que tive com um homem da Igreja vai um par de anos. Dizia-me ele que quando morremos, a primeira coisa que nos perguntam quando chegamos ao Paraíso é "Que fizeste tu do amor?" Já passaram muitos anos sobre esta conversa, mas ela continua viva na minha mente. O teu livro será para ti a resposta. Porque ele é um ato de amor, que não escondes. É um ato de criação. É como se de um filho se tratasse. A este primeiro passo, outro terá que se seguir para que a estrada se cumpra caminhando. Fico a aguardar o próximo. Mais amadurecido, mas sempre vivenciado. Porque só assim ele será autêntico, será a voz do coração. Que a tua estrada seja luminosa é o que te desejo. Mas se, por qualquer altura alguma núvem encobrir o sol, não te esqueças que ela não ficará lá para sempre. Haverá sempre um vento redentor que a afastará de novo. Gostei deste teu primeiro trabalho, e sabes como sou exigente. Parabéns por este livro. Parabéns pela coragem de te expores publicamente. És uma mulher forte e determinada. Continua a fazer a tua estrada. Continua a assolar-nos a todos com a tua "Tempestade de Poemas". Um livro a ler e a reler. A guardar. Daqui a alguns anos, será falado como o primeiro duma grande poeta com uma grande obra, assim quero acreditar. Um livro importante com uma cuidada apresentação. Capa dura - coisa pouco habitual hoje em dia e logo em poesia - impresso em papel de qualidade. Nada ficou ao acaso. Até por isso, este é um livro a merecer a vossa atenção. A edição é da Artelogy.
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