Reflexão num domingo... (que até pode ser de férias...)

Vivemos solteiros de afetos e viúvos de esperanças. Estes são tempos de "relações de chiclete", estabelece-mo-las com o outro enquanto o outro é capaz de nos dar algo em troca, que logo cuspimos fora, quando já não nos dá interesse. Estas são as relações entre pessoas que se estendem às nações, num mundo cinzento onde já nem há lugar às expectativas. Há algum tempo atrás, estava com uns amigos. Fomos comprar algum pão e mais umas coisas. Quando estávamos a acomodar os bens no carro, vimos uma cabeça de criança a espreitar detrás dum contentor do lixo que servia esse hipermercado. Chamamos a criança e demos-lhe o pão. Pouco depois vimos que outras cabeças de criança espreitavam detrás do mesmo contentor. Fomos ver o que se passava. Era a criança a quem demos o pão, que o estava a repartir com três outras mais pequenas. Eram sãotomenses. De peles tisnadas, talvez se sentindo inferiores por isso, até assustados talvez. Mas nesse dia, essa luz do mundo veio até nós sobre a forma de criança. Talvez a forma mais sublime de aparecer para iluminar este mundo cinzento de chumbo, campo de interesses nem sempre os mais nobres. Nesse dia, senti-me mais iluminado, como venho sendo iluminado vai para algum tempo, também por uma criança. Ela poderá não ser a luz do mundo, mas é seguramente a minha luz, a luz do meu mundo. A luz que ilumina e aquece, a luz que redime, a luz que nos trás a paz ao coração. Neste domingo, que é também de férias, dei por mim a pensar sobre isto. Porque por vezes temos necessidade de mergulhar noutros momentos da vida. Porque as férias também são isso. Não só o sol e praia. Tempo de exageros e excessos. Também devem ser tempos de reflexão. Como foi hoje o meu caso...