Turma Formadores Certform 66

Wednesday, September 16, 2015

A carta de Passos Coelho que precipitou a vinda da 'troika'

Sempre ficou um sabor agridoce para muitos de nós, quando o PSD e a restante oposição votaram contra o famoso PEC IV, quando este já tinha sido aprovado em Bruxelas com o apoio total da Sra. Merkel. Nunca tal se percebeu, mas sempre se disse que o PSD, - que até tinha afirmado a intenção de o votar favoravelmente -, viria a mudar de opinião visto, segundo as palavras do seu líder, ter chegado o tempo de "ir ao pote". Hoje tudo fica mais claro com a divulgação desta carta confidencial feita pelo jornal Público e que aqui transcrevo na íntegra. Afinal, quando de diz que "não foi o PS que chamou a 'troika' ", talvez haja alguma razão. O PS foi o autor visível, material até, mas por trás, havia um outro mentor que não queria dar a cara, o PSD de Pedro Passos Coelho. Podem ler a carta da polémica na íntegra, de seguida, aquela que, realmente, precipitou a vinda da 'troika' para Portugal.

"Confidencial

Gabinete do presidente

Senhor primeiro ministro

“Recebi hoje informação, da parte do senhor Governador do Banco de Portugal, de que o nosso sistema financeiro não se encontra, por si só, em condições de garantir o apoio necessário para que o Estado português assegure as suas responsabilidades externas em matéria de pagamentos durante os meses mais imediatos. Ainda esta manhã o senhor Presidente da Associação Portuguesa de Bancos transmitiu-me idêntica informação.

Estes factos não podem deixar de motivar a minha profunda preocupação.

Não desconheço que o Governo tem repetidamente afirmado que Portugal não necessitará de recorrer a qualquer mecanismo de ajuda externa e é certo que a competência pela gestão das responsabilidades financeiras do país cabe por inteiro ao Governo.

Não disponho de informação sobre as acções e diligências que o Executivo estará a desenvolver para assegurar o cumprimento dessas obrigações. Porém, é do conhecimento público a situação do mercado que a República vem defrontando, desde há vários meses a esta parte, bem como o facto de o sistema bancário se encontrar sem acesso ao mercado desde há mais de um ano.

Atenta a especial sensibilidade desta matéria e as gravíssimas consequências que decorriam para o nosso país de qualquer eventual risco de incumprimento, é essencial que o Governo garanta, com toda a segurança e atempadamente, adopção das medidas indispensáveis para evitar tal risco.

Nestas circunstâncias, entendo ser meu dever levar ao seu conhecimento que, se essa vier a ser a decisão do Governo, o Partido Social Democrata não deixará de apoiar o recurso aos mecanismos financeiros externos, nomeadamente em matéria de facilidade de crédito para apoio à balança de pagamentos.

Considerando a extrema relevância desta matéria, informo ainda que darei conhecimento desta carta confidencial ao senhor Presidente da República.

Com os cumprimentos,

[assinatura]

Pedro Passos Coelho

Lisboa, 31 de Março de 2011"

Agora, tudo fica mais claro. Não se trata duma fantasia, duma narrativa (como hoje se diz), mas sim de factos que a História há-de e deve julgar.

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