Emigrantes, refugiados ou a radicalização nacionalista?
Tenho lido e discutido muito neste últimos dias sobre a questão mais pendente na Europa atualmente como é a dos refugiados. É uma questão onde à primeira vista todos parecem ter razão. Desde logo, a aculturação da Europa, embora tal já vem sendo feita por outros povos e desde à muito tempo; depois, porque nessa leva de gente que foge da guerra alguns virão que não o são, gente infiltrada com outros objetivos. Tenho a consciência disso, mas tal não pode impedir que se seja solidário com gente que, para além da crença religiosa ou política, é gente como nós, que apenas quer viver em paz, acordar sem o ruído das bombas ou de algo bem pior se tal ainda é possível. Este fenómeno que é transversal na Europa, não nos devia deixar tão preocupados assim. Em alerta sim, mas não de portas e, sobretudo, de mentes fechadas. Já no pós-II guerra mundial, Portugal, bem como outros países, foram assolados pela leva de judeus que por aqui passaram e que nem sequer queriam ficar, apenas transitar para outro "El Dorado" que na época era a imagem dos EUA. Também nessa altura, vieram muitas pessoas infiltradas que transformaram Lisboa num entreposto de espionagem como é sabido. Mas isso não significou que homens como Aristides de Sousa Mendes arriscassem tudo apenas para salvar vidas. Se hoje temos necessidade de lembrar pessoas como ele, porque não homenagear a sua memória ajudando outros como ele fez? E já agora, ponham-se na pele dum francês, quando nos anos 60 viu o seu país "invadido" por magrebinos, turcos e sobretudo... portugueses. Viajo pelo mundo desde muito novo, e ainda me lembro de ver nos arredores de Paris os tristemente célebres "bidonville" onde os portugueses e outras minorias viviam. Para os que não sabem, os "bidonville" eram uma espécie de bairros de lata, mal afamados e andrajosos, onde os portugueses viviam nos anos 60. E alguns dos nossos, também não éramos pessoas tão recomendáveis assim, podem crer. Mas uma árvore nunca faz, só por si, a floresta. (E já agora, será que se ouviu alguma crítica coletiva a tantos brasileiros que demandaram a terra lusa, na sua maioria marginais, que só aumentaram a criminalidade entre nós?) Hoje é diferente mas nem sempre foi assim. Até termos adquirido a posição que hoje temos na sociedade francesa, muito sofrimento existiu, face ao olhar enviesado de franceses que viam gente tão reles invadir a sua pátria de cultura, mas também de liberdade, a mesma liberdade que criou espaço para que por lá permanecêssemos todos estes anos, contribuindo para o enriquecimento do país, fazendo aquilo que os nativos já não queriam fazer. Agora, nesta sociedade cada vez mais envelhecida como a nossa, esta gente pode até ser um bastião de equilíbrio que se foi perdendo com o tempo. Afinal, eles já por cá andaram, noutros tempos. A sua cultura vai surgindo aqui e ali, restos dum tempo em que a Península Ibérica fazia parte do Al-Andaluz, e mesmo depois, ainda por cá foram ficando. E quando tanta gente mais bem informada e culta do que nós, sobretudo no norte da Europa, os acolhe com dignidade, porque será que alguns de nós têm tanto receio? Nós que já convivemos com eles noutros tempos? Que consciência pesada será essa e porquê? Contrariamente aos portugueses que foram para França, muita desta gente é culta, até bem melhor formado do que muitos por cá. Basta ver como alguns falam inglês com alguma fluência, - que é uma língua bem difícil de aprender face à sua língua natal - bem longe, do analfabeto lusitano que depois de demandar o Brasil e a Venezuela, "invadiu" a França. Percebo os receios do choque de culturas, mas também tenho por adquirido que esse choque também é benéfico para ambos. Povos diferentes que aprenderão uns com os outros num ecumenismo de que tanto o mundo precisa. E não me venham falar dos pobres de cá, do desemprego e de outras tristes realidades, que apenas pretendem desfocar outros interesses. Não é por acaso que nas redes sociais circula muita propaganda contra esta gente desesperada, como se todos fossem terroristas e bombistas prontos a aniquilar o Ocidente. E também não deixa de ser sintomático que muita dessa gente percorra caminhos de extrema-direita, daquela mais sinistra que tantos refugiados produziu no século passado. É preciso que comecemos a pensar racionalmente e não nos deixarmos arrebanhar por propaganda fácil que tem outras finalidades. Até o Vaticano, sempre tão prudente e cauteloso, não fica indiferente. Será que o Papa Francisco, por os defender, também já está catalogado como um perigoso terrorista? Será que o Vaticano está a fomentar a islamização da Europa? Senhores sejamos sensatos. Prudentes, atentos, mas sensatos. E quando se suspende os Acordos de Schengen, isso só traduz uma certa má consciência com que a Europa está a lidar com esta questão. Sem ideias, firmes, cada um para seu lado, assim vai a UE que apenas se uniu para impor uma humilhante austeridade aos povos do sul.
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