Reflexões eleitorais
E estamos a chegar ao dia das eleições. Para muitos a indecisão é evidente. Para outros nem por isso. Confesso que quase no fim da campanha eleitoral me sinto desgostoso. Porque a perfídia entre os partidos substituiu aquilo que deveria ter sido de esclarecimento num momento em que Portugal passa por enormes dificuldades, e não o maná de leite e mel que a coligação apregoa. E se esse sentimento de embuste é cada vez mais evidente, parece não se tornar claro para os portugueses, que dizem que lhes darão maioritariamente a vitória. No dia seguinte, voltarão a lamentar-se, a carpir mágoas, a participar em manifestações. Enfim, o já tradicional e histórico masoquismo lusitano. Na principal alternativa, pouco de alternativa se vê. Com um líder que, duma forma ignóbil, afastou e praticamente insultou, um seu camarada de partido, que acusava de ganhar por pouco, agora, já deve estar arrependido de o ter feito, porque arrisca-se a perder por muito. Quem pode confiar num futuro primeiro-ministro assim? Se o atual nos deve merecer muitas reservas, aquele que desafia, deve-nos merecer algum cuidado. E por isso, tudo leva a crer que sairá derrotado nas eleições que ele julgava ganhar por muitos, como se dum passeio se tratasse. Enganou-se em absoluto. O que não deixa de ser curioso. Habituados os portugueses a votar maciçamente sempre nos mesmos partidos ditos do arco governamental, hoje vêem-se confrontados com um dos maiores dilemas dos quarenta anos de democracia que levamos. Se por um lado, rejeitam um grupo de rapazolas que vem vendendo o país ao desbarato, não vêm no horizonte alternativa credível para o rebater. Dilema profundo este que, estou seguro, sairá caro ao país. Mas as coisas são assim. Até ao próximo domingo a festa continua, afinal é disto que o meu povo gosta. Depois virá a tradicional carpideira face a um dia a dia desgraçado, como aqueles que vivemos nos últimos anos. Afinal somos o país do fado. Do fado chorado e sofrido. Alguma razão haverá para sermos assim.
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