Ecos da madrugada
Ainda não tinham batido as seis da manhã, já eu iniciava o meu habitual "jogging". Dez quilómetros me esperavam para serem percorridos. A madrugada estava fresca, com aquela frescura que se entranha na pele e nos faz sentir mais jovens. (Não gosto de falar de frio porque frio não estava, e então se compararmos com outras latitudes, nem é bom pensar). Não havia vivalma na rua, apenas um carro aqui ou ali que passava, lentamente, - até parece que o carro também tinha sono -, com o condutor a bocejar e a esfregar os olhos ainda mal acordado. Uma ou outra pessoa encolhida na paragem do autocarro, há espera que ele chegasse, para entrar no seu ventre aquecido, e acabar o sono que tinha sido interrompido antes de tempo. Algumas ruas mais iluminadas, outras nem por isso. Por incúria ou simplesmente por ela ainda ali não chegou. Mas nem era preciso. Um lindo luar de Janeiro era o meu companheiro de jornada como se ele também me quisesse acompanhar. É nestes momentos que me sinto melhor. Com música para aliviar a caminhada, ou sem ela, - como foi hoje o caso -, é sempre um momento em que nos reencontramos com nós próprios, com os pensamentos, vivências, memórias. Estes são momentos únicos que o ruído do acordar da cidade, o bulício do corre corre apressado de quem vai tarde em busca do seu trabalho, não nos deixa ter. São momentos em que nos cruzamos com o país real que somos. Onde uma outra cidade aparece miserável e carente, a coberto da noite e da vergonha, caminhando em busca do seu novo amanhã, que recomeça dia após dia. Um outro mundo, uma outra realidade, um outro país. Mas também temos que olhar para o céu, e hoje era bem visível um extraordinário alinhamento planetário que terá o seu apogeu no dia 2 de Fevereiro. Já era bem visível a olho nú. E a caminhada frenética lá continuava, os quilómetros iam sendo devorados momento a momento. Até se esgotarem. Depois um banho retemperador. Um novo dia começa. Apenas restam os ecos de mais uma madrugada.
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