À memória duma gatinha
Passam hoje sete dias sobre o desaparecimento duma gatinha que alimentamos durante anos. Sem nome, apenas gatinha lhe chamávamos, porque nome é coisa que os desgraçados nem sequer têm direito. Mão assassina a coberto de covarde anonimato envenenou-a. Ainda foi a tempo de sentir o amor dum ser humano antes de deixar este mundo. Ainda sentiu um afago, quando se levantou a custo e desapareceu para nunca mais ser vista. (Nem a possibilidade de lhe ter dado uma sepultura tivemos. Num espaço onde reina a paz e o amor pelos animais). Já deve ter morrido dado o estado em que se encontrava. Se assim foi, - o que seria o melhor para ela -, pois que esteja em paz. A paz que não teve em vida, abandonada, escorraçada, espancada por todos, humanos e até os da sua espécie, porque quando se nasce para se ser desgraçada(o) nada há a fazer. Sete dias passaram mas a memória fica. Espero que esse afago lhe tenha trazido o conforto, o calor de seres humanos que a alimentaram durante algum tempo. (A foto representa um desses momentos). Todos os dias, ainda vou ver o telhado onde ela me esperava todas as madrugadas, o mesmo onde vinha várias vezes comer, o mesmo onde vinha à noite para a última refeição e despedir-se de nós. E como sinto ainda o seu miar abafado de ser doente, assustado e frágil! Só desejo que, esteja ela onde estiver, que esteja em paz. Que tenha, finalmente, encontrado a tão merecida e redentora paz. Descansa em paz, gatinha!
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