Os mimos de Bruxelas
Pierre Moscovici o comissário europeu dos assuntos económicos, disse ontem que tudo estava ultrapassado, embora horas depois, através do twitter, tenha afirmado que ainda havia algumas questões a discutir. (Hoje já corrigiu de novo). Se o tratar os assuntos dum país no twitter me parece de um certo maus gosto, também não deixa de ser curioso este avanço e recuo sem sentido. Tendo em linha de conta o que se está a passar, a Comissão Europeia elegeu uma questão bizantina como é a do défice estrutural. Para quem não domina estas matérias, o défice estrutural é o défice nominal retirando as medidas temporárias e extraordinárias dividido, - não pelo PIB real que é a riqueza do pais, mas sim, pelo PIB potencial -, que é, nada mais, nada menos, do que a situação ideal dum país com pleno emprego e crescimento constante, com plena utilização dos seus recursos. Uma ideia académica que nunca se verifica em nenhum país, e em Portugal nunca se verificou, nem se vai verificar. Se se colocar duas ou três pessoas a trabalhar neste assunto, será quase impossível que elas cheguem todas ao mesmo resultado. Daí se vê aquilo que se está a discutir. O trazer esta discussão bizantina para a análise do orçamento dum país, é no mínimo ridícula, e mostra bem o que se pretende do ponto de vista político. Se o governo de direita fosse quem estivesse no poder, seguramente que este assunto dificilmente seria equacionado. Mas o governo é de centro esquerda, com a possibilidade de existir um outro do mesmo sinal em Espanha, e a Comissão quer dar a ideia de intransigência para ver se trava a situação que se está a verificar no sul da Europa. Mas não percebem que assim se vai desacreditando a Comissão Europeia e por extensão a própria União Europeia, invadida por um bando de burocratas que nada conhecem da realidade dos países e que com a sua atitude só fazem crescer a onda dos eurocéticos. Seja como for, o governo português parece estar determinado em seguir em frente, e assim, ainda hoje será discutido o Orçamento de Estado em reunião do Conselho de Ministros e amanhã, será entregue na Assembleia da República, - seguida duma conferência de imprensa no Ministério das Finanças -, seja qual for a indicação de Bruxelas. É necessário que Portugal vá dando sinais de que está disponível para acatar os Tratados da União, mas isso não significará, que sacrifique o futuro do país e das suas gentes, já tão esmagadas pelas políticas ultraliberais dos últimos quatro anos. E a Comissão também deve retirar as suas ilações dos resultados das medidas impostas pela última governação e abençoadas pela Comissão, bem longe, da terra do leite e mel que nos prometiam.
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