O cerco
Antes de iniciar este comentário, será necessário que faça a minha declaração de interesse. O atual governo não será, porventura, aquele que mais me motiva. Contudo, isso não impede que analise a situação face à governação de Portugal e ao cerco que a ele está a ser feito. Desde que o governo de António Costa assumiu funções, a direita não deixou de estar à espreita dum deslize, fosse ele qual fosse, para atacar. Isso até é normal em democracia. Quando eles estavam no poder a oposição de então fazia o mesmo. Mas já é menos interessante a maneira como se agitam de contentamento face a uma presumível repreensão de Bruxelas ao governo português. Esta gente ainda não reparou que cada vez mais os países europeus, nomeadamente os mais periféricos, vão perdendo soberania face a um lote de burocratas em Bruxelas. Passos e Portas sempre se ajoelharam perante eles, embora de bandeirinha na lapela. Agora tentam sorrir face a um governo que está a tentar impor uma visão nacional diferente, defendendo o país, sem por em causa os tratados. Isso não fica bem a ninguém, mesmo para aqueles como atrás referi, que andaram quatro anos de bandeirinha na lapela. Porque esta centralidade de Bruxelas tira a força do voto aos povos, leva a que haja menos democracia, onde um governo tem que apresentar um orçamento para prévia aprovação, a um grupo de pessoas que não foram eleitas democraticamente, e ainda antes de o discutir no seu Parlamento face a deputados eleitos pelo povo. (E até estou convencido que algumas coisas são propositadas no OE para que o governo ganhe espaço de manobra nas negociações). Sei que o conceito de pátria anda pelas ruas da amargura, desde logo, num espetro onde seria impensável andar, a direita. Toda esta pressão da fraca Comissão Europeia, numa União Europeia que está mais concentrada no orçamento de Portugal, e aceita governos de cariz fascista no seu seio, como é o caso do húngaro, que aceita que países ditos evoluídos confisquem bens a refugiados à boa maneira nazi, como foi o caso da Dinamarca, e até pretendam humilhar a Grécia, de novo, tentando pô-los fora do espaço Schengen, embora digam que temporariamente. Seja como for algo anda mal nesta Europa sem norte, não a Europa de Jean Monet ou Delors, controlada pelo Partido Popular Europeu, que não passa dum bando de ultraliberais que querem impor um modelo económico aos outros países, qual 'vulgata', como se não houvesse outras maneiras de olhar a economia europeia. A 14 de Maio de 2015, Noam Chomsky - linguista e filósofo norte-americano - afirmava: "A crise em Portugal, Grécia, Espanha e outros países da periferia europeia é reveladora." E acrescentava: "Se fossem aplicados os princípios básicos do capitalismo, eram os bancos alemães e de outros países do Norte que tinham de suportar a crise, pois concederam empréstimos de alto risco, com elevadas taxas de juro". Para Noam Chomsky, que encheu nessa altura o auditório da Gulbenkian numa conferência universitária, "na Europa, os bancos conseguiram que os riscos que tinham assumido fossem suportados pelos Estados". Trata-se portanto de um "capitalismo distorcido", acusa o linguista: "Os portugueses estão a pagar as aventuras dos bancos alemães, que fizeram empréstimos arriscados". A seguir à crise financeira, pouca coisa mudou, regista Chomsky. "Os últimos relatórios do FMI mostram que os bancos continuam a ter grandes lucros, sobretudo devido às políticas de isenção fiscal e subsídios diretos e indiretos dos governos", afirma sem tergiversões. Esta é a dura realidade, - e os últimos casos a nível bancário entre nós, como o BES e o BANIF -, são disso exemplo. Contudo, alguns que me leiem dir-me-ão porquê tudo isto, se já por diversas vezes me assumi como federalista? Tem tudo a ver meus amigos. A ideia duma federação da União Europeia sempre esteve subjacente à sua fundação, embora nem sempre tenha sido assumida com clareza. (Mas uma federação solidária como era o modelo inicial de Jean Monet). E a quem ela adere deve perceber para onde vai e naquilo em que se vai meter. O problema central aqui é que ninguém assume o federalismo como tal, mas duma forma capciosa vai exercendo o poder centralizador, desde logo, na sua vertente mais forte, que é a economia. E quanto à solidariedade nem é bom falar. Impondo regras aos mais fracos para defender os mais forte como assinala Chomsky. Se o federalismo é o mote, embora se esconda com medo, então que venha à luz do dia e se diga ao que se vem. Cada país fará a sua escolha e assumirá os riscos daí derivados. Agora, imporem regras 'ad principio', como se fossem uma tutela de governos democraticamente eleitos é que não. Clarifiquemos as coisas, a bem da democracia.
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