Turma Formadores Certform 66

Thursday, March 31, 2016

Preocupações sobre o sistema financeiro português

Já por mais do que uma vez tenho trazido o tema da banca e do sistema financeiro português. Agora que começou a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif, talvez seja altura de voltar ao tema. Esta questão é muito importante, embora pareça passar ao lado da maioria dos portugueses, mais absorvidos pela baixa política e pela espuma dos dias. António Costa já apontou o dedo e disse de sua justiça e, mais recentemente, o Presidente da República fez o mesmo e no mesmo sentido. Aliás, aquilo que parece ser insólito quando convidou Mario Draghi para se sentar no primeiro Conselho de Estado, indicia que Marcelo Rebelo de Sousa quer envolver o seu pensamento com uma certa cumplicidade do Banco Central Europeu (BCE). E fê-lo, na minha opinião, bem porque todos sabemos que a banca nacional está fortemente dependente do BCE, não só do dinheiro mas também da estratégia, como ficou evidente no caso da resolução do Banif que, ao que tudo leva a crer, o BCE já teria dado indicações nesse sentido e indicado, inclusive, qual o banco que o deveria deter. Seja como for, nós temos que ter a consciência de que o nosso sistema financeiro está fortemente doente, depois de anos de um desbragar sem sentido e sem responsabilidade. Daí que, depois dos problemas evidenciados por alguns bancos que são do conhecimento de todos, há outros com problemas semelhantes e têm estado mais resguardados por enquanto, como é o caso do Millenium, com a questão acionista e o banco espanhol Sabadel por trás. E aqui é que o problema se coloca. Que o nosso sistema está mal, ninguém tem dúvidas. Mas que a nossa banca seja ela toda, no curto prazo, espanhola é que não. Um país sem sistema financeiro é um país a prazo. A economia dum país só se desenvolve com o apoio dos bancos a essa economia, e ninguém está a ver os espanhóis a fazerem isso em Portugal, quando têm mercados mais importantes e tradicionais onde o fazer, como é o caso da América Latina. E assim sendo, Portugal conhecerá períodos de estagnação sucessivos, não tanto fruto do mercado os das estratégias político-económicas, mas sobretudo, por uma decisão dos bancos que lideram o sistema, neste caso, os espanhóis. Este é um alerta importante, porque para a maioria do público em geral, o banco ser A ou B é indiferente, se é espanhol ou doutra nacionalidade não interessa, não percebendo que por trás, está uma realidade bem mais sinistra a nível da economia nacional. E aqui, o BCE, que se assume como o 'grande regulador' tem uma palavra a dizer. Penso que esta será a ideia de Marcelo Rebelo de Sousa com quem não posso deixar de estar mais de acordo. Tempos difíceis estes, onde não é claro o rumo a seguir, as conveniências de ocasião que podem ditar um caminho menos interessante para Portugal. Depois do colapso do BPN e do BPP, depois da falência do BES, da resolução do Banif, da infindável novela da venda do Novo Banco, dos problemas no BPI com a disputa entre Isabel dos Santos e o Caixabank, e, menos claramente, no Millenium, são demasiados casos para uma economia tão pequena como a nossa. Falha da regulação do Banco de Portugal (BdP), sem dúvida, mas que isso não sirva para, duma forma apressada e até atabalhoada, se tentar seguir caminhos dos quais nos vamos arrepender no futuro. Depois dos ajustes necessários, depois das concentrações inevitáveis, seria bom que emergisse uma banca nacional dirigida por portugueses, ao serviço de Portugal. Daí o alerta, daí a preocupação dos poderes instituídos, o que significa que o caso é grave e a margem de manobra pequena. Aguardemos o que daí virá na esperança de que Portugal que não foi vencido em Aljubarrota, não venha agora a sê-lo pela via da economia e da finança.

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