Tempo de introspeção

Estes são tempos difíceis, daí o talvez, aproveitar esta quadra para uma introspeção. Daquilo que fomos, daquilo que somos, daquilo que pretendemos ser. Tempos difíceis sempre os houve. A época que celebramos é disso exemplo, onde os poderes de então não toleravam a dissidência. Daí a morte como fator dissuasor. E morte de cruz. A mais infame e horrível das mortes. Tempos difíceis também aqueles. Segundo a tradição - sempre ela - cristã, é a época do cordeiro sacrificado (agnus dei) que a Bíblia celebra. Não o cordeiro que é sacrificado ano após ano, geração após geração, mas um outro, na imagem pungente dum Homem acossado, vilipendiado, torturado e, finalmente, assassinado numa cruz. Se este morreu pelo mundo, os outros morrem pela covardia dos homens que, a seu modo, também não sabem respeitar a vida de outros seres. Mas este tempo é o tempo da meditação, do transcendente, o tempo dum Homem sepultado num sepulcro oferecido por terceiros - talvez amigos secretos nesses tempos de intolerância - e é nesse jazer nesse sepulcro que todos podemos vir a refletir um pouco. Sei que os tempos são duros - sempre o foram através dos tempos - mas, e talvez por isso, devemos ter tempo para parar, para pensar, para refletir. Silenciosamente, longe das confusões e dos ruídos do mundo que nos impedem de pensar. Apenas nós e nós. Face a face com o nosso outro eu, transcendental ou não, mas o outro eu, a nossa consciência. Estes são tempos difíceis, por isso, deverão ser tempos de reflexão.