Uma viagem de consciência
Independentemente de termos ou não um qualquer credo religioso, penso que ninguém fica indiferente ao pontificado do Papa Francisco. Sábado passado foi um desses dias. O Papa Francisco saiu da sua zona de conforto e foi a Lesbos na Grécia, mergulhar na miséria e indiferença, no medo e preconceito, - tudo junto -, que leva a que muita gente a precisar de ajuda se veja confinada a autênticos campos de concentração. Esta Europa símbolo da liberdade, anda há muito sem rumo. E nesta matéria dos refugiados ainda mais. Para além das boas intenções de alguns países em acolher refugiados, tudo se esfuma nos burocratas de Bruxelas, que nos seu gabinetes aquecidos de chão alcatifado, nada sabem do que é sobreviver no meio da miséria e, pior do que isso, da indiferença. Este espaço europeu que é identificado como um espaço de liberdade e tolerância, reage assim, por puro preconceito, estupidez e ganância. (E entretanto, o Mediterrâneo que em vez de nos unir, nos separa, se vai convertendo num verdadeiro cemitério de gente inocente). Sei que muitos que me lêem podem achar que tudo está muito correto, mas seria bom que eles continuassem longe. Afinal receamos que aquela gente sem nada, sejam potenciais terroristas. O desconhecido sempre foi um fator de ignorância. Mas desenganem-se. O Ocidente também o foi num outro tempo, quando levou a morte e a destruição, a tortura e as violações, a morte indigna e por desporto, como aconteceu nas Cruzadas. Essa gente que em nome de Cristo, apenas eram movida pela ganância, dos despojos que obteriam depois do combate, e das mulheres que sacrificavam como prémio dos vencedores, atuou duma forma tão indigna e horrenda tal qual um qualquer terrorista que hoje se faz explodir num qualquer sítio, ele também vítima do fanatismo e estupidez de pensar que está a servir uma causa nobre, um qualquer Deus, apenas sendo um peão de brega de uns tantos que nos seus palácios dourados, rodeados pelas suas muitas mulheres, se riem da sua própria estupidez. Este é um sinal dos tempos, tão iguais a outros sinais dum outro tempo. E não pensem que era melhor, apenas porque éramos nós que conduzíamos o processo. Seja como for, foi preciso que o Papa Francisco, apoiado por outras confissões religiosas, fosse lá para envergonhar a Europa e o mundo. Destruir um preconceito quando trouxe consigo quatro famílias de refugiados. (Citando Madre Teresa de Calcuta: "Esta é uma pequena gota num oceano, mas sem essa gota, o oceano seria diferente"). Dar um sinal de que afinal, somos todos humanos, seja qual for a nossa crença religiosa ou até, a falta dela. Há gestos que ficam para o mundo e este ficará com certeza. Esta foi uma das viagens papais que, porventura, menos gente teve em volta do Papa. Mas foi certamente uma daquelas viagens com mais significado de todas as que o Papa Francisco efetuou até hoje. Porque foi uma viagem de consciência. À nossa consciência. Há momentos que são históricos e este foi um deles. O Papa Francisco tem-me sempre surpreendido pela positiva desde que foi nomeado e acho que continuará a fazê-lo ao longo do seu pontificado. Mas isso, não pode esbater uma pergunta que me baila na cabeça há muito tempo. Afinal porque há pessoas que se matam ou matam outros seus semelhantes em nome da religião? Não são as religiões códigos onde se vai buscar a paz e não a guerra, tolerância e não o ódio? Afinal que gente é esta e que credo defendem? Será que estes são os tais sanguinários cruzados do século XXI como o foram os ocidentais em séculos anteriores? Porque tem que ser assim? Porque anda o mundo desalinhado deste jeito? Perguntas em branco. Respostas que se anseiam e que não chegam. Porque no fundo, o dá-las já é um incómodo, seja por quem for, seja em nome de que lado for.
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