E agora, UE?...
O improvável aconteceu. O Reino Unido decidiu pela saída da União Europeia (UE). E agora, UE? Que fazer? Este embaraço começou com a promessa de Cameron em fazer este referendo para apaziguar aqueles, que dentro do seu partido, eram euro-céticos. Pensava que o referendo era um detalhe. Até julgava que iria reforçar a sua posição interna. Não o foi. Cameron teve que se demitir. A primeira grande ironia de tudo isto. Mas há mais. A saída do Reino Unido da UE trará uma forte pressão sobre os trabalhadores ingleses e os seus direitos sociais, algo que passou ao lado da campanha porque era um tema incómodo. A política de emigração alterar-se-à, e já muitos portugueses emigrados estão a ficar preocupados. A ideia de que na última hora o receio da incerteza iria levar a que os ingleses votassem pela permanência, afinal saiu furada. Daqui para a frente, tudo será um imenso mar de incerteza. Mesmo que a permanência vingasse, nada ficaria como dantes. O precedente estava aberto. Outros países já vêm pedindo o mesmo, caso da Suécia e Polónia. Depois há que ver a percentagem da votação. Ela foi significativa nesta eleição. Mas também pode indiciar uma certa volatilidade para futuro. Cameron demitiu-se. E isso pode levar a um outro governo que seja favorável ao regresso à UE. A confusão instalou-se. Mas aqui, nem só ao Reino Unido devem ser assacadas culpas. Há muito que a relação dos cidadãos com a UE se vem degradando. Uma certa sobranceria da UE face aos países membros não é alheia a este sentimento, que os burocratas de Bruxelas tanto tentam negar. Daí à emergência dos nacionalismos vai um passo. Ver o que se está a passar com a Polónia e Hungria, que configuram regimes fascizantes que a UE tenta não ver. O que se passa com a Turquia, futuro membro, e aquilo que foram as cedências da UE à sua política desumana de emigração. Até a França com o cada vez maior apoio que Marine Le Pen vem tendo nas sondagens, são bem o exemplo do que se está a passar. Isto no fundo é o aproveitar a inabilidade e sobranceria que Bruxelas tem tido para com os países membros. A ingerência nas eleições espanholas é um sinal preocupante. Já para não falar na experiência portuguesa que Bruxelas tenta fazer gorar, porque não se devem permitir desvios à linha oficial, ultraliberal e autocrática que esta Europa exibe, não percebendo que estão a criar um ciclo vicioso de que a Europa será a principal vítima. O Eurogrupo, que é um orgão não eleito, vem-se sobrepondo à Comissão e ao Conselho Europeu, no desenho de políticas a esmo que quase sempre são um falhanço nos países onde são implementadas. Portugal é um bom exemplo disto mesmo. Desta caldeirada de interesses, foram-se adensando as nuvens no horizonte, que ninguém parece ter prestado atenção. Agora formou-se a tempestade perfeita. O que virá aí. A libra hoje teve uma desvalorização histórica. A necessidade de injeção de moeda nas economias mundiais começa a ser reclamada. Eventualmente as grandes empresas sediadas no Reino Unido tenderão a sair, deslocando-se para o sítio mais seguro, a inevitável Alemanha, reforçando o seu poderio determinista e acicatando outros países a seguir a experiência britânica. O efeito dominó potencia-se. Poderemos estar na eminência da desagregação da Europa como a conhecemos. Este espaço que, para além de económico, tem sido também um espaço de paz, que tanto tem contribuído para a sua hegemonia, poderá vir a ceder a um tempo onde os conflitos entre as nações sejam a regra, tal como acontecia antes da UE. Lembre-mo-nos do que aconteceu no Kosovo. Assim, esta vitória poderá vir a tornar-se numa vitória de Pirro, onde ninguém ganha. A vida será mais difícil para os britânicos nos próximos anos; a Europa sairá mais enfraquecida com a perda dum membro tão importante; os mercados agitar-se-ão face à incerteza. Como com qualquer seguradora, a partir de agora o prémio de risco será mais elevado. Nesta matéria, o prémio de risco serão as taxas de juro. Logo, países como Portugal, Espanha, Itália, Grécia, países periféricos com economias débeis, e com elevadas dívidas, verão a sua situação agravada. A Holanda com grande exposição ao mercado britânico sofrerá o primeiro impacto. Depois serão as ondas de choque que atingirão os restantes como se de um terramoto se tratasse. Este é um dia triste para a UE e para o Reino Unido. Quando o folclore acabar, a realidade aparecerá nua e crua em toda a sua pujança. Mas este também é uma momento de aprender com os erros. Se a UE não for capaz de tirar ilações de tudo isto, devolver democracia aos seus estados membros, readquirir a confiança dos cidadãos, pois então, estaremos perante um verdadeiro requiem pela Europa. Será o fim dum belo sonho de paz, prosperidade e solidariedade. Afinal, tudo aquilo que esta UE tomada por ultraliberais, sempre negou. Se assim continuar, este será, seguramente, o princípio do fim.
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