Tempo de Advento vs tempo de angústia
Entramos no tempo de Advento - que por definição é um tempo de esperança, mas que para mim é tempo de angústia - que nos levará até ao Natal. Dezembro está aí à porta com o seu cortejo habitual de frio, humidade, algum desconforto. É o inverno que se perfila num horizonte cada vez mais próximo. Dezembro foi um mês mágico para mim enquanto criança. Sempre na expectativa de receber os novos brinquedos do Menino Jesus - o Pai Natal não tinha o estatuto que tem hoje - e entretanto ia enchendo o coração com os recortes de jornal que o meu avô me comprava, onde começavam a publicar estórias de Natal que excitavam a minha fantasia e que culminavam no célebre calendário do Matulinho, (para se montar em casa), que, para além de pedagógico era divertido. Se bem me recordo era o jornal Primeiro de Janeiro que publicava estas coisas. E assim era estimulada a fantasia duma criança que, como muitas outras, apenas recebia brinquedos no Natal, e já era ótimo porque muitas outras nem no Natal tinham essa bênção. Mas à medida que fui crescendo, para além da magia do Natal se ter esbatido, o Natal foi mesmo um fator de angústia tremendo. Por muitas coisas que aconteciam sempre nesta altura e que me deixavam aterrorizado e das quais não quero aqui falar agora. (As pessoas que me conhecem sabem o porquê e basta). Ainda hoje, mas por outras razões, esta é uma época que quero que passe depressa. Muito depressa e que Dezembro se esgote no calendário rapidamente. Adoro os preparativos. Vêem-me à memória aqueles momentos em que a minha mãe e a minha avó iam construindo aquilo que seria a mesa de Natal. A simples compra dos ingredientes era para mim motivo de regozijo. Hoje mantenho esse hábito. Os preparativos, a decoração, são o 'must' do meu Natal. Mas à medida que nos aproxima-mos da data, uma angústia se apodera de mim. Talvez por memórias recalcadas de antanho, mas também, porque o meu Natal passou a ser de muitas memórias. Longe da mesa farta, da desbunda gastronómica, do barulho ensurdecedor. Passou a ser um Natal mais contemplativo, mais espiritual - se é correto aqui o termo - um Natal mais tranquilo e recatado. Tenho sempre dificuldade em conciliar os contrários e o Natal, para mim, é isso mesmo, conciliar o irreconciliável. Por tudo isto, este tempo que para a maioria das pessoas é de festa, para mim é de saudade e até de angústia. E assim começa o meu Advento. Com aquele nervosismo de que caminhamos para o Natal. Como espero que passe rapidamente o mês de Dezembro e todos estes festejos!
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