Carta à minha Avó Margarida
Minha queria Avó. Partiste faz hoje 27 anos! E parece que foi ontem. Porque a memória está fresca fruto da admiração, carinho e amor que tenho por ti, minha Avó. A Avó que me criou e a quem devo muito da minha educação. Sim, educação! Sei que hoje poucos sabem o que isso é. Educadores e educandos tudo farinha dum mesmo saco. (Claro que há exceções, mas são tão poucas, minha Avó!) Mas contigo, minha Avó, não havia espaço para isso. Apesar da tua simplicidade, da escolaridade básica como era timbre nessa época, sempre me inculcas-te os valores da vida, onde a educação tinha um espaço privilegiado. 27 anos passaram entretanto, e como me recordo dos esforços que fazias para me levar e me ir buscar à escola primária que então frequentava. Sempre protetora. Com sol ou chuva, exposta à inclemência dos elementos, tu lá ias e me incentivavas. Num tempo em que os transportes públicos eram quase inexistentes, - e carro uma miríade apenas para alguns -, tu lá caminhavas comigo dois quilómetros para cada lado. Sempre determinada mostrando que esse era o primeiro degrau essencial para outros que gostarias que eu trepasse. E trepei e tu ainda viste o resultado de tudo isso antes de partires. E que felicidade a tua, então! Pois é, minha Avó, já lá vão 27 anos, mas a presença está aqui, ao estender da mão, no momento em que escrevo estas linhas. Porque nunca deixaste de estar. Partindo, nunca partiste. Desaparecendo, nunca desapareceste. Apenas passaste para o outro lado do espelho donde, certamente, lá vais vendo o que resta da minha jornada a concluir. Até ao dia em que nos voltaremos a encontrar. Porque, de facto, nunca deixamos de nos ver. Enquanto a tua memória subsistir não morrerás, não desaparecerás. Apenas te afastaste para o lado para não interferir. Deve ser aquilo que estás a fazer agora, até um dia, onde o que esteve oculto até então se há-de revelar. Até lá só me resta desejar que estejas bem. Lá onde estiveres, que estejas em paz. Até um dia, minha querida Avó Margarida!...
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