Ecumenismo versus radicalismo
Temos vindo a assistir a uma série de comentários sobre pessoas oriundas de outras paragens, senhores doutras culturas, religião e modo de pensar. E tal faz-me alguma confusão. Sei que anda por aí muita gente a tentar infiltrar-se para minar a nossa forma de vida, a nossa maneira de olhar o mundo, enfim, os valores superiores duma Europa que está muito à frente, - mesmo quando comparada com os EUA -, embora para muitos possa parecer estranho. Mas acho que, dentre o mau, (que há e muito), e aquelas pessoas que vêm buscar apenas uma forma de vida melhor para si e para os seus, vai uma grande distância. Nós somos bem o exemplo disso. Um povo da diáspora, espalhado pelos quatro cantos do mundo, não seremos, na minha modesta opinião, o melhor exemplo para criticar e estigmatizar outros, que fazem afinal, aquilo que nós vimos fazendo à séculos. Sempre fomos um povo ecuménico, e não é por haver um ou outro - ou um grupo de pessoas diferentes - que se pode ferrar um povo. Ainda na semana passada assistimos a dois crimes hediondos, muito violentos com diversas vítimas, num espaço de um dia. E isso não pode ser visto como o paradigma do homem português ou, para os mais fundamentalistas, um sinete de um povo. Aliás, acho que esta nossa maneira mais ancestral de olhar o mundo - um pouco diferente daquela que vemos hoje em dia - traduz aquilo que nos dias que correm é a visão oficial da Igreja. O Papa Francisco tem olhado para o problema da exclusão, da não aceitação de refugiados, da desconfiança para com o próximo, duma forma muito clara e sem tergiversões. Poder-me-ão chamar ingénuo! Talvez até tenham razão. Mas isso não modifica a minha maneira de ver e olhar o outro. Aquilo que está a acontecer noutras paragens, já aconteceu na Europa num passado recente. Basta lembrar as duas guerras mundiais com o cortejo de mortos e refugiados que gerou, alguns dos quais se acolheram em Portugal. Penso que muitas vezes, o radicar de posições está no desconhecimento do outro, da sua cultura, religião, enfim, na sua maneira diferente de olhar o mundo. Mas se fizermos um esforço para nos tentarmos conhecer melhor talvez consigamos pensar de maneira diferente. Temos sempre receio do que não conhecemos muitas vezes ampliado por informação pouco rigorosa que acicata as diferenças. Ainda me recordo como alguns dos nossos primeiros emigrantes que abalaram para França (por razões económicas ou para fugir à guerra colonial) eram recebidos e vistos por lá. Conheço o relato de muitos sobre o muito que por lá passaram, das dificuldades que tiveram, da maneira como eram olhados. (Disso até sou testemunha das muitas vezes que visitei esse país e vi coisas que não me agradavam sobre os meus compatriotas e não só). Talvez por isso, sempre tive um espaço para refletir sobre o tal radicalismo que rotula muitas dessas gentes, a esmo, sem critério, sem destrinçar o trigo do joio. Com certeza que bons e maus existem em todas as culturas. Já pensaram como um oriental olha para as cruzadas do ocidente que se fizeram em tempos idos e que espalharam o terror, o desespero e a morte de tantos inocentes? E isso não pode ser assacado como moeda de troca dos povos que participaram. Porque eles apenas representavam uma parte dessas gentes, com interesses mais materiais que religiosos, para a sua atuação. Hoje assiste-se ao inverso, mais refinado porque os tempos são outros, mas com a mesma finalidade. Mas um grupo dessas gentes, sem princípios, cheios de ódio ao nosso modelo ocidental de vida, não pode ser confundido com outros que, também eles, fogem desse radicalismo intolerante que assola os seus países deixando tudo para trás. E isso combate-se integrando e não fechando as pessoas em 'ghettos', olhadas de soslaios, apontadas a todo o momento. Estamos a passar por momentos difíceis da nossa História, mas temos que ter uma abertura de espírito para não nos deixarmos arrastar por um ódio radical igual àquele que pretendemos combater. Pensemos sobre a nossa História rica de muitos séculos e encontraremos a resposta a muitas destas questões. O que temos é que olhar para ela duma forma distanciada e imparcial. Talvez assim, cheguemos a uma conclusão para além da intolerância. Dizia Gilbert Chesterton que 'a intolerância pode ser aproximadamente definida como a indignação dos que não têm opinião'. Se calhar é isso mesmo que está a acontecer nos nossos dias. Da não opinião - e até desconhecimento - de uns, até ao aproveitamos de outros, há um mar de situações para as quais temos que olhar com atenção para não nos deixarmos arrastar na correnteza das massas amorfas que atuam irracionalmente, muitas vezes manobradas por interesses pouco claros. Isto não quer dizer que não estejamos atentos e vigilantes. Mas sem radicalismos tão caros aos fundamentalismos que pretendemos exorcizar.
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