Turma Formadores Certform 66

Sunday, May 14, 2017

Momentos de glória ou memória de um dia histórico

Há dias assim. Parece que tudo no universo se conjuga para que as coisas aconteçam. Ontem foi um desses dias. Começou com o centenário das Aparições em Fátima com a visita do Papa Francisco para abrilhantar as celebrações. Sempre com aquele sorriso de menino, de voz terna mas firme, o Papa Francisco encheu a alma dos portugueses. Se era importante a canonização da Jacinta e do Francisco, a sua presença trouxe ao rubro aquele sentido mais nacional de se ter entre nós um visitante tão ilustre. Mas o dia ainda era uma criança para tudo aquilo que estava para acontecer. Para quem gosta de futebol e especialmente do Benfica, era mais um momento histórico, a conquista do tetracampeonato. Sei que isto é mais limitado e até não aglutinador duma nação. Desde logo há quem goste de futebol e se revê nas cores do Benfica. Mas também há os outros. Não sou amante da bola, mas penso que o desportivismo deve andar por aí, numa altura em que nem todos sabem perder. E meu amigos, se saber ganhar é importante, saber perder ainda o é mais. Mas as coisas ainda não ficavam por aí. Na Eurovisão tínhamos uma canção improvável, com um cantor improvável. Se nas meias finais já havia sinais de que algo poderia acontecer, foi na final que tudo ficou claro. Salvador Sobral, com aquele seu ar desengonçado, voz angelical, daria corpo a uma grande canção, com uma bela música e um poema muito belo, com a marca da sua irmã, a grande cantora Luísa Sobral, mulher do jazz que muito aprecio. Confesso que já há muitos anos que não sigo a Eurovisão. Segui-o ainda menino quando as ofertas eram bem limitadas e tudo era levado para o campo dum certo nacionalismo serôdio. Talvez por isso nunca ganhamos. Provavelmente por ser assim, aos poucos fui-me desligando do evento, substituindo estas por outras músicas e géneros que me começaram a dizer muito mais. Mas, e embora não seja um festivaleiro, confesso que fiquei rendido à canção, ao poema e àquela maneira tão especial de interpretar. Caetano Veloso dizia à umas horas atrás, que Salvador era "demasiado bom". E se ele o diz, pois não tenhamos dúvidas. E fez-se história de novo. Portugal venceu o Festival da Eurovisão pela primeira vez. Com uma canção que nada tem de festival, com um cantor que estaria talvez a mais. E tudo isto, tem a ver com uma certa forma de olhar com mais otimismo para Portugal. Depois do muito que sofremos nos últimos anos, parece que uma lufada de ar fresco entrou pela janela. Avassaladora. Retemperadora. E Portugal passou a olhar para si próprio com mais orgulho. Isso já tinha acontecido o ano passado, quando pela primeira vez também ganhamos o Campeonato Europeu de Futebol. São momentos assim, aqueles momentos de glória que elevam a auto estima dum povo e duma nação. Esse otimismo de afetos à mistura, por vezes, duma forma confusa, mas afetos. O orgulho de se ser nação com todas as contradições, coisas boas e menos boas, contrastes. Porque uma nação é feita de tudo isso. Sem nacionalismos balofos mas com orgulho de se ser português. Não querendo politizar tais eventos, quase me apetece dizer que nesta simbiose dum Presidente de afetos e dum Primeiro-Ministro super otimista, pode estar esse segredo. Essa energia positiva de que tanto carecemos desde à séculos, mas que parece ter chegado agora e duma forma tão pouco ortodoxa, diria mais, pouco convencional. Momentos de orgulho. Momentos de glória, sim. Aproveitemos esta onda gigante que nos atinge para nos orgulharmos da nação que temos e paremos de dizer mal de tudo que a português diz respeito. É altura do amor próprio se elevar e com ele nos centrarmos, todos juntos, no levar o nome de Portugal ao mundo. E também olharmos para nós, para as nossas capacidades, para aquilo que somos capaz de fazer bem, mesmo melhor, do que outros que lá fora preenchem o nosso deslumbramento, quase sempre sem motivo. Parece que, finalmente, estamos a ver que afinal também somos capazes. Talvez fazendo as coisas ainda melhor do que outros. E somos, minha gente! Isto são coisas comesinhas face aos problemas dum nação, bem o sei. Mas temos que começar por algum lado. Porque não por aqui?

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