Turma Formadores Certform 66

Tuesday, May 30, 2017

O incómodo de Herr Schäuble

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, sempre foi e continuará a ser uma figura controversa. Defensor do mais feroz ultraliberalismo, Herr Schäuble, nunca deixou de ser uma pedra no sapato para os países do sul. Portugal sentiu-o bem na pele, mas a Espanha, França, Itália, Bélgica e Grécia, também não deixaram de sofrer as consequência das suas tiranias. Face a uma Alemanha rica, os países do sul pobres, eram uma espécie de gente bizarra que 'gastava tudo em vinho e mulheres' - não esquecer que esta triste frase veio dum holandês fiel sicário de Schäuble - e como tal, não mereciam mais do que serem estrangulados até ao limite para não voltarem a cometer tais desvarios. A chegada ao poder do atual governo em Portugal ainda veio acicatar mais essa desconfiança. Primeiro, a incredulidade, depois o incómodo de ver um governo (com o apoio da esquerda mais ortodoxa) reverter as medidas do anterior. Era o tempo do 'vem aí o diabo' - frase também proferida por outro sicário, (ou sabujo) de Schäuble cá do burgo - onde se apontava cada medida como um passo em direção a um abismo anunciado. Mas não foi assim. O governo - que se previa de curta duração - está para durar, o défice atingiu valores nunca atingidos em democracia, o desemprego baixou para níveis cada vez mais aceitáveis, a economia cresce como já há muito não se via, o PIB vai crescendo a bom ritmo. (Apenas a dívida continua muito elevada fruto da incapacidade de ultrapassar um serviço da dívida usurário que conduzirá, mais cedo ou mais tarde, à sua reestruturação, o que beneficiaria não só Portugal como a própria UE e, sobretudo, a zona euro que tão carente anda de maior e melhor equilíbrio). Até os famosos mercados - leia-se, as agências de 'rating' - começam a olhar para o país com outros olhos. Embora tardiamente, lá se conseguiu que Portugal saísse do procedimento de défice excessivo, e até a Moody's já equaciona a possibilidade de rever a notação para Portugal. Face a isto, Herr Schäuble teve que, mesmo a contragosto, assumir que aquilo que estava a acontecer em Portugal era um sucesso o que, desde logo, punha em causa a sua visão ultraliberal. Com o habitual mau perder de todos os tiranos, Herr Schäuble viu-se na contingência de dizer algo, e vai daí, tenta compara o ministro das Finanças português a um famoso futebolista, com aquela ironia de quem espera que as coisas ainda voltem para atrás. Mas aquilo que está a acontecer em Portugal também tem feito com que o nosso país tenha uma voz cada vez mais autorizada e respeitada a fazer-se ouvir. E Herr Schäuble não gosta disso, mas nada pode fazer. O que Herr Schäuble não diz é que o seu país esta a violar os tratados europeus desde 2011. Por excesso, visto o seu país estar com um superavit que não é admitido nesses tratados. (Portugal violou-os também, mas por defeito, visto ter um défice excessivo). E a ironia volta-se agora para Herr Schäuble porque, agora que Portugal saiu do procedimento de défice excessivo, é a Alemanha de Schäuble, que está a violar os tratados e não Portugal. Grande embaraço para o tiranete alemão que deve ter muita dificuldade em engolir este sapo. Só que as coisas são como são. O incómodo de Herr Schäuble pode levar-nos a dizer que estamos à espera que a Alemanha corrija os seus números, ou então, Herr Schäuble terá que aplicar sanções a si próprio - via UE de que o seu país é o motor - as mesmas que tão rigorosamente defendia que se aplicassem aos países do sul. Vamos a ver se Herr Schäuble  é capaz disso, ou se é seguidor daquela máxima de 'olha para o que eu digo, mas não para o que eu faço' que, convenhamos, só mostrará à evidência - se tal ainda é necessário - a verdadeira dualidade de critérios de Herr Schäuble e duma Alemanha que parece ainda não se ter libertado dos tiques dum passado histórico recente tão trágico quão insultuoso para a Europa e para o mundo. 

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