Há 62 anos atrás a minha família era, certamente, uma família feliz. Nascia um filho, um novo membro da família fazia a sua aparição. Todos os vaticínios do que seria, eram válidos. Afinal quando nascemos somos uma espécie de folha em branco que vamos escrevendo dia após dia. E aí começou mais uma estória. Ao longo de 62 anos muitos foram os momentos bons, mas também os menos bons; houve tempos de glória e de submissão; percorri estradas planas e verdejantes mas também as pedregosas a ferir os pés na caminhada. Tudo é a aprendizagem da vida. Esse ciclo que nos mostra que toda a rosa tem também os seus espinhos e que não é por estes existirem que deixamos de apreciar o seu perfume. Nestes tempos já longos de vida, muito foi dedicado ao estudo. Mas também aos animais e à natureza. Sempre! Sempre incentivado pela família a ir mais longe do que eles foram, na sua modesta condição. Sempre me disseram que os segundos eram os primeiros dos últimos, lema que me ficou para a vida e que tento transmitir aos mais jovens. Sei que quando somos muito jovens, somos aliciados para outros terrenos e o estudo fica um pouco para trás. Tal também foi a minha condição. Mas a persistência familiar, o mostrar as vantagens que isso representaria na minha vida, acabaram por me fazer entender que esse era o caminho. E percorri-o com gosto. Porque podemos não ter a profissão para a qual nos qualificamos, mas a qualificação é importante para a maneira como olhamos para o mundo. Como o vemos. Como vamos empurrando as fronteiras do impossível à medida que o nosso conhecimento aumenta. Fiz o percurso académico em Portugal. Mais tarde, vim a especializar-me no estrangeiro. Conheci o mundo. Conheci outras culturas, outras gentes. E isso foi um outro curso que a vida me deu. 62 anos depois, já com a carreira a caminhar para o ocaso, continuo a estudar, a aprender, porque só assim nos libertaremos da ignorância, deusa tão adorada nos nossos dias pelos mais jovens. Mas vou caminhando. Porque o caminho faz-se a caminhar. Nunca perdendo de vista os meus ancestrais, os meus maiores, que já não se encontram entre nós. Neste dia, como em tantos outros, vou homenageá-los. Porque eles foram o alfa duma vida que caminha para o seu ómega. Eles foram o princípio daquilo que, inexoravelmente, terá um fim. Deles recebi o facho que ilumina a minha estrada. Sempre cioso de não trair aqueles que apostaram em mim. Honrar-lhes a memória será o mínimo que posso fazer por eles a título de retribuição. 62 anos passaram na escada da vida. Agora que cada vez a vida vai passando dum outono nostálgico para um inverno frio e profundo, só me resta a esperança de ter feito o melhor possível por ter uma vida digna. Com certeza, nem tudo foi como quereria, mas certamente não foi tão mau quanto poderia ter sido. A reflexão aqui fica, o pensamento aqui flui sem prisões, grilhetas ou barreiras. Assim, simplesmente, como simples tem sido o meu percurso pela existência. Um obrigado a todos os que me desejaram um feliz aniversário. Sejam eles amigos reais ou virtuais. Vós também, se calhar sem terdes disso o sentido, sóis muito importantes para mim. Porque, cada um a seu modo, abrilhanta dia após dia, o meu caminho. A todos um muito obrigado.
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